Escrevi esses tempos que dinheiro não compra ninguém. O dinheiro até pode atrair meia dúzia de aliados por algum tempo, mas jamais serão aliados confiáveis, porque bastará o dinheiro acabar para todos pularem fora. O que realmente compra as pessoas, o que faz delas eternamente leais e gratas, o que faz delas soldados incapazes de abandonar um companheiro é outra coisa.
No capítulo 13 da famosa Carta aos Coríntios, Paulo de Tarso explica que coisa é essa. Ele diz o seguinte: "E ainda que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria".
Quer dizer: não adianta ter poder, nem inteligência, nem toda a cultura do mundo, não adianta acreditar em Deus nem encontrar as respostas que a humanidade procura se, no fim das contas, não houver afeto. Sem amor, é o que Paulo prega, um homem não é nada. A vida se torna vazia — e não há quem queira lhe ser leal. Se você dá afeto, se presta atenção no outro, se sorri para as pessoas e tenta ajudá-las, aí a dívida de gratidão se torna eterna.
Foi nisso que pensei quando meu chefe, o Nilson Vargas, gerente-executivo de Jornalismo, se despediu do Grupo RBS na semana passada, depois de 22 anos na empresa. Nilson é um jornalista excepcional, com capacidade impressionante de lançar um olhar inédito sobre qualquer coisa, mas não foi isso o que nos fez chorar quando ele foi embora. Aliás, não foi isso o que garantiu o sucesso profissional do Nilson. Talento é importante, claro, mas o afeto é o segredo do sucesso.
Conheço profissionais talentosíssimos, das mais diversas áreas, que, por serem intratáveis ou geniosos demais, não conseguiram decolar. Por quê? Porque ninguém chega a lugar algum sem aliados. Ninguém decola sem pessoas que o ajudem a decolar. Veja o caso do Nilson.
Por ter sido generoso, um companheiro solidário e bem-humorado, por ter acolhido tantos colegas com uma humanidade inesgotável, o Nilson comprou as pessoas sem perceber: não importa onde esteja, ninguém jamais recusará um chamado dele, sempre estaremos prontos para apoiá-lo, nenhum de nós ousará abandoná-lo, porque ficamos todos presos à teia de afeto que ele foi tecendo ao longo dos anos.
E, mesmo que algumas vezes eu tenha discutido com o Nilson, é como constatou Paulo de Tarso na Carta aos Coríntios: o amor "tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta". Ou seja, o afeto abraça até as diferenças. Não há quantia em dinheiro que possa, um dia, alcançar tamanho poder.