
Qual é a importância de uma orquestra? Para a prefeitura de Novo Hamburgo, quase nenhuma. Só isso explica a decisão de cortar o repasse anual de R$ 1,2 milhão que sustentava a tradicional Orquestra de Sopros da cidade. Esse valor, suficiente para viabilizar a instituição durante um ano inteiro, é o mesmo que a prefeitura gasta para asfaltar, acredite, um único quilômetro de rua.
Quer dizer: para o governo de Novo Hamburgo, cujo orçamento chega a R$ 2 bilhões, manter viva uma das orquestras mais antigas do Estado — ela faria 73 anos em 2025 — não é um legado a ser preservado, mas um peso a ser descartado. Não é nada que inspire orgulho, pelo contrário, é um capricho qualquer que não merece uma migalha do que o município arrecada.
Espantoso, mas não chega a ser surpreendente. Faz tempo que um certo pensamento político no Brasil trata cultura como enfeite, como algo menor, dispensável, sem utilidade prática. Talvez porque só enxerguem valor no que gera impacto imediato, no que aparece em planilha de Excel, no que rende inauguração com fita de corte — nunca no que forma cidadãos, alarga horizontes ou dá identidade a uma cidade.
Tanto que, após a repercussão negativa, a prefeitura de Novo Hamburgo informou que vai manter os núcleos de ensino gratuito de música, só que desvinculados da orquestra. Como se uma coisa não tivesse a ver com a outra. Como se ensinar uma criança a tocar um instrumento não tivesse relação com oferecer a ela a possibilidade de ver esse instrumento sendo tocado no mais alto nível, por músicos experientes, dentro de um projeto coletivo maior. Como se o aprendizado da música, muito mais do que decorar notas e escalas, não passasse por compreender sua história, sua estética, seu sentido.
O que acontece quando um governo não enxerga nada disso? Quando não reconhece o valor de uma fila de crianças calçando seus melhores sapatos para assistir a um concerto? Quando não entende que cidades sem cultura são apenas amontoados de ruas e prédios, sem alma, sem voz e sem história?
Talvez as contas fechem, os cofres respirem e o orçamento se equilibre — porque organizar as finanças, de fato, é fundamental. Mas a cidade, ainda assim, vai ficar mais pobre.