Basta, né? Chega. Não dá mais para uma turminha de farda achar que, de tempos em tempos, tem o direito de tomar o governo para si. Foi assim em 1889, em 1892, em 1930, em 1937, em 1945 e em 1964. E essa é só a lista de golpes que deram certo. Se a gente elencar os que deram errado, ou seja, as tentativas de golpe militar que foram planejadas mas fracassaram, aí, meu amigo, vou acabar escrevendo uma enciclopédia por acidente.
O fato é que temos uma cultura golpista. Uma cultura que foi se perpetuando a partir da impunidade: até houve uma puniçãozinha aqui ou ali, mas tudo muito brando — via de regra, a anistia é uma constante quando se fala em rupturas democráticas no Brasil. Aliás, confesso que caí naquele papo de que a nossa democracia, depois de quase quatro décadas, estava suficientemente consolidada para coibir intentonas autoritárias. Balela, estava nada.
No início da semana, como se sabe, a Polícia Federal prendeu quatro militares e um policial suspeitos de arquitetar um golpe de Estado. O plano, batizado com um nome infantiloide, Punhal Verde Amarelo, não só pretendia impedir a posse do governo eleito em 2022 como almejava assassinar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. A mesma Polícia Federal, nesta quinta-feira (21), indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e uma tropa de oficiais que tramavam passar o trator nas instituições.
Até quando vamos tolerar essas bananices? O que falta mais a história mostrar para deixar claro que, no Brasil, o único jeito de interromper esse ciclo golpista é fazer o que precisa ser feito com qualquer criminoso? Processá-lo. Julgá-lo. Puni-lo. Prendê-lo. Como fizeram aqui do lado, na Argentina, por exemplo. Aliás, por que vocês acham que, na Argentina, um país há décadas mergulhado em crise econômica, com todo tipo de instabilidade política, nunca mais houve notícia de militar querendo tomar o poder?
Talvez porque lá o general Videla, o mais sanguinário dos ditadores latino-americanos, tenha morrido na cadeia. Mais precisamente, sentado no vaso sanitário da própria cela, aos 87 anos. Que machão autoritário iria querer um final assim? Não, não, melhor cumprir a missão de todo bom militar: defender a pátria. E não há como fazer isso sem defender a escolha do povo.