Nossa querida Porto Alegre, que já foi símbolo de participação popular, carrega desde domingo um título pouco edificante: é a capital brasileira com maior abstenção no primeiro turno. Nada menos que 31,5% dos eleitores não foram votar. O índice na cidade foi ainda maior em 2020 (33%), é verdade, mas só porque a eleição ocorreu na pandemia. Se compararmos com 2016 (22,5%), 2012 (18,5%), 2008 (16,3%) e 2004 (13,3%), fica evidente a escalada de desinteresse.
Não pretendo oferecer explicações científicas, até porque não há consenso sobre o fenômeno — alguns analistas apontam para o grande número de idosos em Porto Alegre, já que o voto para quem tem mais de 70 anos, embora facultativo, também entra nas estatísticas. Mas o professor Antônio Augusto Mayer dos Santos, especialista em Direito Eleitoral, levanta uma hipótese que merece atenção: as pessoas parecem ter cansado.
É fácil identificar um desânimo, uma espécie de fastio resignado, com os mesmos nomes, as mesmas propostas e as mesmas teses de sempre. Problemas que já deveriam ter sido resolvidos, porque foram tratados à exaustão em quase todas as eleições nos últimos 40 anos, continuam entre nós. Soluções prometidas dezenas de vezes nunca vieram. E aí, claro, as mesmas chagas e angústias da população precisam ser novamente abordadas na campanha seguinte. E na próxima. E na outra também.
Há quanto tempo falamos sobre abandono do Centro Histórico? E sobre escolas de tempo integral? E sobre a longa espera por uma consulta, e sobre as inundações na Região das Ilhas, e sobre a frota envelhecida do transporte público? Claro que os prefeitos fizeram o que podiam, alguns inclusive avançaram em questões importantes, mas o fato é que grandes dilemas cotidianos persistem na Capital como fardos imutáveis. O que nos resta, senão a frustração?
Essa descrença, vale lembrar, não apenas desmotiva o eleitor a votar, mas pode virar combustível para candidatos arruaceiros — como se demolir o sistema fosse o caminho para consertá-lo. Não precisamos de destruição, precisamos de renovação. Nosso grande desafio, como democracia, é fazer o eleitor sentir que seu voto tem o poder de transformar, e não de perpetuar uma ilusão a cada novo pleito.