Uma grande notícia está prestes a iluminar (literalmente, aliás) nossas vidas nas próximas semanas. Ao que tudo indica, depois da eleição, o governo federal deve anunciar o triunfal retorno do horário de verão — aquele que nos foi cruelmente arrancado há cinco anos, deixando nossos fins de tarde mergulhados em escuridão precoce.
Sei que o assunto desperta paixões, compreendo os argumentos contrários, mas a decisão deve ser estritamente técnica. Segundo estudos do Operador Nacional do Sistema Elétrico, a medida reduziria a demanda por energia em quase 3% nos horários de pico, aliviando a pressão sobre as termelétricas neste período de seca histórica.
É um bom ponto, claro, só que o horário de verão nunca se resumiu a isso. O Fabrício Carpinejar, certa vez, foi cirúrgico ao traduzir o efeito que ele provocava: uma sensação de fim de semana durante a semana. Com uma hora a mais de sol, era como se deixássemos de concentrar todas as expectativas no sábado e no domingo. Pairava no ar uma agradável impressão de que "vai dar tempo".
O convívio com os amigos, o happy hour, a pedalada na orla, a pracinha com as crianças, tudo isso se viabilizava com uma frequência impensável em outra época do ano. Até porque o medo da violência, com o início da noite, chegava tarde demais para nos preocupar. As pessoas pareciam mudar de humor: passavam o dia determinadas a dar um sentido para aquele dia. Era bonito.
Os que torciam o nariz tinham suas razões, reconheço. Para quem levanta muito cedo, pegar ônibus no breu de uma manhã que demora para nascer é desagradável — e talvez inseguro. Mas até os opositores hão de concordar que, depois da enchente que nos devastou, o horário de verão funcionaria como empurrão para uma economia solapada. Bares, restaurantes, shoppings, cafés, teatros, todos desfrutariam os benefícios de uma cidade que pulsa até mais tarde.
Em tempos tão difíceis, essa hora extra de luz pode ser um fôlego para nos reconectarmos com a leveza. Economizar energia é fundamental em um mundo que desdenha o ambiente, mas, se o horário de verão voltar, será também uma oportunidade para refletir sobre como aproveitamos o tempo — e o que escolhemos fazer com ele.