Em um período marcado pela maior tragédia climática do Estado, a economia gaúcha praticamente não saiu do lugar. O Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul caiu 0,3% no segundo trimestre deste ano ante o primeiro trimestre. O desempenho ocorre diante de salto nas atividades ligadas ao agronegócio, estabilidade nos serviços e queda na indústria. No mesmo período, o PIB do país cresceu 1,4%.
Os dados foram divulgados na tarde desta terça-feira (24) pelo Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG). O PIB é a soma dos bens e serviços produzidos no Estado.
A queda na economia gaúcha foi puxada pela retração na indústria, que amargou recuo de 2,4% no trimestre. Na outra ponta, a agropecuária, com alta de 5,3%, diante do desempenho da colheita da soja, e os serviços, que anotaram pequeno avanço de 0,1%, impediram queda maior do PIB do Estado no segundo trimestre.
Comparada a projeções feitas durante o pico da inundação, a retração da atividade econômica gaúcha foi menos intensa. A secretária do Planejamento, Danielle Calazans, afirma que a resposta rápida do poder público ao Estado, incluindo programas de transferência de renda, tem peso importante nessa queda menos incisiva. O incentivo ao consumo de itens que aceleraram o varejo e a indústria em um ambiente de reconstrução auxiliou na retomada. Ela destacou os diferentes momentos do segundo trimestre no Estado:
— A gente vem com um trimestre diferente, com um abril muito bom, um maio muito ruim e uma melhora significativa em junho.
O pesquisador do DEE Martinho Lazzari afirma que, a partir de junho, a produção industrial, a construção e as vendas no comércio começaram a acelerar, o que ajudou na recuperação pós-perdas.
Impacto no futuro
O diretor do DEE, Pedro Zuanazzi, ressalta que, mesmo distante do tombo projetado no início da inundação, a economia do Estado também está longe do projetado antes da tragédia. Ele lembra que as estimativas das federações para o PIB do RS eram de 4,8% na média, no início do ano. Caso acompanhasse o aumento acima do esperado nacional, poderia chegar a 5,9%. Se o RS parar nos próximos dois trimestres, terá crescido 3,7%:
— Por mais que 3,7% seja um número que soa bem aos ouvidos, ele é 2,2 pontos percentuais abaixo dos 5,9% estimado. Então, vamos precisar ver os próximos trimestres, o próximo ano também para entender melhor qual foi o tamanho da dimensão desse impacto.
O economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank, afirma que parte da recuperação na saída da inundação foi estimulada pela antecipação de consumo diante do adiantamento de benefícios e de programas de transferência de renda. Com isso, pegou parte da demanda que seria observada no futuro. Isso gera um alerta para o desempenho da economia no horizonte, segundo o economista:
— Estamos antecipando o consumo, e isso certamente contribuiu para esse resultado bem melhor do que o esperado. Agora, provavelmente, os impactos desse adiantamento de consumo vão ser sentidos mais à frente. Mas é muito difícil precisar quando é que vai acontecer esse gargalo.
Comparação anual
Na comparação com o mesmo trimestre de 2023, a economia gaúcha cresceu 4,6%, na esteira do desempenho da agropecuária (+34,6%). No mesmo recorte de comparação, o PIB do país avançou de 3,3%.
Nessa análise anual, a indústria teve retração de 1,7%, influenciada pelo desempenho negativo de 6,5% da indústria de transformação, principal ramo do setor. Das 14 principais atividades industriais, 10 apresentaram queda, com destaque para máquinas e equipamentos (-26,3%), produtos químicos (-10,9%) e produtos alimentícios (-5,1%). O ramo de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (+37,9%) apresentou um dos melhores resultados na indústria.
Já o setor de serviços apresentou alta de 2,4% no segundo trimestre em relação ao mesmo período de 2023. O comércio puxou os números positivos, com alta de 5,1% no trimestre, seguido por serviços de informação (+3,9%). Seis das 10 principais atividades comerciais tiveram desempenho positivo, em especial a de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebida e fumo (+12,1%), móveis e eletrodomésticos (18,8%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (+9,7%).
Acumulado no ano
O PIB do Estado acumula crescimento de 5,4% contra 2,9% do Brasil no primeiro semestre do ano. A recuperação da produção agrícola em 2024 após problemas do ano anterior teve destaque nesse movimento. O resultado ocorre em um cenário com crescimento de 43,8% na produção de soja e de 13,6% na de milho e -0,3% na no arroz. No mesmo período, o segmento registrou queda de 2,9% no Brasil.
Nesta mesma base de comparação de acumulado do ano, a indústria gaúcha cresceu 0,2%, e os serviços, 2,7%.
“As enchentes causaram impactos significativos na economia gaúcha, resultando em quedas expressivas nas produções agropecuária, industrial e de serviços em maio. No entanto, a partir de junho, a produção industrial começou a se recuperar, a construção voltou a crescer, e as vendas no comércio atingiram o maior nível da série, sinalizando um movimento de retomada econômica, ainda que não generalizada para todas as atividades”, avaliou o pesquisador Martinho Lazzari, do DEE, em comunicado.
Nos números acumulados dos últimos quatro trimestres (do 3º tri de 2023 ao 2º tri de 2024), o PIB do Estado anotou alta de 2,6%, enquanto no Brasil cresceu 2,5%.