Ante as expectativas, a queda de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul no segundo trimestre ante o período de três meses imediatamente anterior é uma boa notícia. Havia projeções de que o tombo fosse muito maior, dado o efeito desastroso do dilúvio de maio.
Mais surpreendente foi o crescimento de 4,6% ante o o mesmo trimestre de 2023, o mais tradicional no Estado por embutir o resultado da safra de verão.
Ao apresentar os números, o pesquisador do Departamento de Economia e Estatística (DEE) Martinho Lazzari, observou que o "correto" seria comparar o PIB do período com a expectativa, não com o desempenho anterior, seja do trimestre passado ou o mesmo do ano anterior.
A primeira leitura óbvia é que o campo sofreu muito menos do que se temia: a agropecuária cresceu 34,6% ante o segundo trimestre de 2023.
O efeito da enchente apareceu com mais clareza na indústria, que teve retração de 6,5%. Das 14 principais atividades do setor, dez tiveram queda, mais acentuada em máquinas e equipamentos (-26,3%), produtos químicos (-10,9%) e produtos alimentícios (-5,1%).
Outro componente da "boa notícia" foram os incentivos aplicados no Estado logo depois do desastre, ainda no segundo trimestre. Houve injeção de recursos que ajudou a movimentar o varejo, por exemplo. O segmento cresceu 5,1% na comparação com igual período de 2023. Chama atenção o desempenho de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebida e fumo, que saltou 12,1%, o de móveis e eletrodomésticos, que disparou 18,8% e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos, com alta de 9,7% - sempre em relação ao segundo trimestre do ano anterior.
— Foi um trimestre com cada mês de um jeito. Abril foi bom, maio foi uma catástrofe, e junho já começou a recuperar — afirmou Danielle Calazans, secretária do Planejamento, Planejamento, Governança e Gestão que tem a DEE sob seu guarda-chuva.
Esse comportamento inesperado já provoca necessidade de estudos mais profundos sobre o que ocorreu com a economia gaúcha depois do dilúvio. A Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) encomendou uma análise, com projeção de efeitos sobre os próximos períodos, porque o consumo de reparação - ainda não é a reconstrução - não deve se repetir.
Danielle observa que esse é um ponto de atenção também para o governo do Estado, que estuda alternativas para evitar que o fim da ajuda emergencial possa ter efeito negativo na economia. Pedro Zuanazzi, diretor do DEE, lembrou que as estimativas para o PIB do RS eram de 4,8% na média, no início do ano. Caso acompanhasse o aumento acima do esperado nacional, poderia chegar a 5,9%. Se o RS parar nos próximos dois trimestres, terá crescido 3,7%:
— Estamos dois pontos abaixo. Então, foi melhor do que o esperado, mas ainda não é um número igual ao que teria sido. O impacto existe e vai permanecer no tempo.
É importante observar que o movimento do PIB reflete os fluxos da economia. Não embute a perda de capital provocada pela enchente.