De tão pesada, a tragédia no Rio Grande do Sul começa a aparecer até em alertas de economistas sobre o crescimento do PIB nacional. Os dois efeitos já começam a ser estimados, mesmo com a observação de que ainda não há dados precisos.
Uma das análise mais alentadas é de Sergio Vale, economista da MB Associados. Em estudo destinado ao mercado, ele observa que "talvez a maior catástrofe climática da história do país, com 85% do Rio Grande do Sul debaixo d´água, nos leve a pensar nas consequências econômicas e sociais de uma crise deste tamanho".
E, mesmo observando que "é difícil estimar perdas no calor dos acontecimentos", Vale sabe que é dever projetar as consequências, à luz das informações disponíveis. Segundo seus cálculos, a tragédia vai significar uma inversão de 5,5 pontos percentuais no PIB gaúcho. Dada a alta acumulada de 3,5% até abril, prevê queda de 2% no PIB gaúcho neste ano.
Os parâmetros usados por Vale são episódios de calamidade semelhantes. O economista avalia que "talvez (...) o furacão Katrina, em 2005, possa ser o mais parecido com o tipo de devastação com que o Sul está vivendo".
No episódio, pondera, vários Estados foram afetados, mas o maior impacto ocorreu na Louisiana (onde fica New Orleans, cidade mais atingida), que teve queda no PIB de 1,5% naquele ano. Ressalva, ainda, que o furacão ocorreu no final de agosto - mais para o final do ano, atenuando o efeito estatístico -, em um Estado que vinha em forte crescimento (4,5% no ano anterior).
O Rio Grande do Sul, por sua vez, vinha em recuperação parcial das perdas da estiagem do ano anterior (La Niña) e crescia 2,8% em 12 meses pelos dados do IBC-Br do Banco Central, sobre uma base fraca.
Também com base no impacto dos furacões em Estados americanos, a G5 Partners estimou ao jornal Valor Econômico perda de 10,5 pontos percentuais no PIB gaúcho no segundo trimestre de 2024 em relação ao primeiro. Como o dado do período de janeiro a março ainda não é conhecido - só deve sair em junho -, é preciso fazer um exercício teórico. Como há expectativa de um bom resultado, caso o RS crescesse 4% nos três primeiros meses do ano, poderia cair 6,5% de abril a junho. Atenção: essa não é uma projeção, o objetivo é apenas explicar o que significaria uma perda de 10,5 p.p (4 - 10,5 = -6,5).
Para Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine, a "recente tragédia humanitária, ambiental e econômica no Rio Grande do Sul terá impacto na atividade, inflação e contas públicas nacionais". O economista lembra que o IBGE suspendeu pesquisas e coletas de dados nas áreas afetadas, portanto há incerteza sobre a medição do impacto direto na indústria, no comércio e nos serviços, além do efeito sobre a inflação medida pelo IPCA.
A essa altura, Cristiano, que é filho de gaúchos, considera mais factível prever o impacto da tragédia no RS no PIB nacional - que estima entre 0,2 e 0,3 ponto percentual, ou seja, uma redução de 2,4% para 2,1%. Argumenta que "qualquer tentativa preliminar sobre o Estado deve subestimar o impacto na atividade econômica".