Depois de várias estimativas de perdas do Rio Grande do Sul com o dilúvio de maio, surge a primeira tentativa de projetar a situação de cada um dos 497 municípios. A partir da constatação de que o impacto não foi uniforme, professores pesquisadores da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos desenvolveram modelo que será apresentado em detalhes na quinta-feira (5).
A lógica é diferente da usada na maioria das projeções feitas até agora, porque não considera perda de capital, mas de renda.
Canoas, que teve dois terços de sua área devastados, é o terceiro município mais impactado em taxa, com redução na renda de 19,8% entre maio de 2023 e maio de 2024. Como tem população grande, é mais o atingido no Estado em valor, com perda de R$ 408,6 milhões. Muçum teve a segunda maior perda em taxa, de 29,9% - só atrás de Eldorado do Sul -, mas a 10ª em valor, de R$ 8,5 milhões.
— Se uma família perdeu o carro na inundação, mas manteve os empregos, não é afetada do ponto de vista da renda, mas dos bens — exemplifica Marcos Lélis, um pesquisadores envolvidos no projeto.
Os dados completos permitirão avaliar as perdas em percentual e em valor - sempre lembrando que não incluem patrimônio perdido, como casas, móveis, carros. O percentual é importante para reforçar quais foram os municípios mais atingidos de forma absoluta. A estimativa do valor da renda perdida, relacionado à população, é fundamental para cada um estudar possíveis reparações.
Lélis destaca que mesmo dentro de uma mesma cidade há grandes diferenças. Porto Alegre, por exemplo, teve menos de 10% da área afetada, mas percentual maior da população atingida.
— Como as áreas mais atingidas são mais as pobres, com maior densidade populacional, a enchente repete o padrão inicial da covid, em que as famílias de mais baixa renda são as mais atingidas. E com o agravante de que, muitas vezes, são as que têm predominância de ocupação informal, sem proteção — observa.
A metodologia
Na avaliação dos pesquisadores, não adiantava fazer projeções com base nos dados históricos, por avaliar que houve uma "quebra estrutural" da série. Depois de muito debate, definiram dois indicadores essenciais: a arrecadação de ISSQN, um imposto municipal, e dados da Rais/Caged, que mostram contratações formais por cidade. Para testar o modelo, aplicaram dados do Vale do Taquari depois da cheia de setembro de 2023.
A apresentação
Os dados completos serão apresentados na quinta-feira, às 11h, no Campus Unisinos Porto Alegre, na Avenida Nilo Peçanha, 1.600.