A aceleração na alta do juro básico no país, confirmada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) nesta quarta-feira (11), mantém a pressão sobre o crédito e a atratividade dos investimentos de renda fixa.
Mesmo que o aumento isolado tenha impacto menor, a nova sequência de altas afasta parte dos consumidores de empréstimos e financiamentos e favorece investidores mais conservadores, segundo especialistas. Com acréscimo de um ponto percentual, a Selic fecha 2024 nos 12,25% ao ano.
Esse é o maior patamar desde a decisão de novembro de 2023. A posição do Copom foi unânime, passando pela confirmação dos nove membros do colegiado. O comitê justifica a nova alta citando incertezas na política fiscal do governo, economia e mercado de trabalho ainda aquecidos e inflação persistente.
No comunicado que confirmou o salto no juro, o Copom prevê novos aumentos de um ponto percentual nas duas próximas reuniões do comitê, marcadas para janeiro e março. Caso essa estimativa se confirme, a Selic chegará aos 14,25% ao ano no fim do primeiro trimestre de 2025. O país não registra taxa nesse patamar desde 2016.
Como ficam os investimentos
Renda Fixa
Títulos públicos pós-fixados
Guilherme Almeida, especialista em educação financeira da Suno Research, afirma que a perspectiva de Selic mais alta em parte do próximo ano mantém os títulos pós-fixados entre as melhores opções de renda fixa:
— A rentabilidade desses títulos está atrelada a um movimento de aumento dos juros, então, o retorno do investidor também segue a elevação da taxa básica.
Dentro desse contexto, o Tesouro Selic segue sendo uma das melhores opções, segundo Almeida. A remuneração desse ativo se dá exatamente pela taxa Selic, portanto, aumenta conforme o juro escala.
Por se tratar de um papel público emitido pelo Tesouro Nacional, o risco é menor. Já os títulos pós-fixados privados trazem um risco adicional, segundo Almeida. Nesse caso, o ideal é verificar com atenção quem é emissor para evitar risco de crédito.
Títulos indexados à inflação
Almeida afirma que outro investimento interessante neste momento são os títulos indexados à inflação, como o Tesouro IPCA +. Esse ativo está ofertando taxas altas com bom adicional, segundo o especialista da Suno.
Parte da elevação do juro ocorre porque o mercado projeta que a inflação vai seguir pressionada. Com isso, papéis ligados ao IPCA ajudam a proteger o dinheiro do investidor, além de um rendimento extra, segundo o analista:
— Contratar um investimento que lhe remunere a inflação mais 7% ao ano é super interessante, justamente porque ela preserva o poder de compra do patrimônio aplicado desse investidor e lhe dá uma remuneração adicional a título de ganho real, que é justamente essa taxa de mais de 7% que está sendo ofertada hoje.
Na parte do vencimento, títulos indexados à inflação são indicados para investimentos a médio e longo prazo, segundo o analista. Nesse sentido, produtos com prazos acima de quatro anos, por exemplo, já são bastante atrativos.
Poupança
A poupança segue menos atrativa ante fundos de investimentos com Selic alta. Quando o juro básico está acima de 8,5%, a remuneração da poupança é limitada a 6,17% ao ano mais a variação da Taxa Referencial (TR). Se o juro estiver em 8,5% ao ano ou menos, a poupança rende 70% da Selic mais a TR. Mesmo assim, a poupança segue sendo vantajosa para investidores com menos dinheiro, porque não tem descontos de taxas de administração e outros impostos, segundo o diretor da Anefac.
Crédito e financiamentos
Com Selic acelerando o patamar de alta, o crédito fica mais caro diante dos aumentos de taxas promovidos pelos bancos e demais instituições financeiras. Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), afirma que o aumento pontual desta reunião não tem grande impacto, mas sim o acumulado, formado pela sequência de altas até aqui e pelas que estão por vir. Além do crédito mais caro, o juro elevado também diminui a parcela de pessoas com potencial de aprovação nos pedidos, segundo Oliveira:
— O banco não usa somente a questão da taxa de juro. Olha também a geração de emprego e renda. Mas qualquer elevação de juro aumenta o risco da inadimplência, porque fica mais caro para as pessoas pagarem dívidas, principalmente aquelas dívidas que estão pós-fixadas, fica mais caro para as pessoas financiarem uma dívida. Então, sempre aumenta o risco do crédito e os bancos passam a ser um pouco mais seletivos na liberação de empréstimos.
Nos financiamentos, a Selic ainda mais alta afeta, principalmente, os contratos de longo prazo, como os firmados para aquisição de carros e imóveis. Por mais que algumas empresas segurem parte do efeito da Selic, aportes com valores maiores sofrem mais com taxas pressionadas.
Simulações do efeito da Selic mais alta no crédito
Cheque especial
Uso por 20 dias de R$ 1 mil
Com Selic de 11,25%
- Taxa mensal: 7,76%
- Valor do juro: R$ 51,73
Com Selic de 12,25%
- Taxa mensal: 7,84%
- Valor do juro: R$ 52,27
Elevação de R$ 0,53
Cartão de crédito rotativo
Utilização do rotativo por 30 dias de R$ 3 mil
Com Selic de 11,25%
- Taxa mensal: 14,76%
- Valor do juro: R$ 442,80
Com Selic de 12,25%
- Taxa mensal: 14,84%
- Valor do juro: R$ 445,20
Elevação de R$ 2,40
Juros do comércio
Compra de uma geladeira de R$ 1,5 mil em financiamento de 12 meses
Com Selic de 11,25%
- Taxa mensal: 5,17%
- Valor da parcela: R$ 170,86
- Valor total: R$ 2.050,38
Com Selic de 12,25%
- Taxa mensal: 5,25%
- Valor da parcela: R$ 171,63
- Valor total: R$ 2.059,59
Elevação no mês: R$ 0,77
Elevação total: R$ 9,22
Fonte: Anefac
Impactos na atividade econômica
Um dos objetivos da aceleração da Selic é tentar frear a demanda e a inflação. Com crédito mais caro, empresas e trabalhadores diminuem o consumo, afetando os preços. Olhando a atividade econômica de maneira geral, os efeitos cheios da Selic costumam ser registrados alguns meses após as altas.
O professor Maurício Weiss, do Programa de Mestrado Profissional de Economia (PPECO) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que um dos aspectos fundamentais para o investimento é a dinâmica do crédito, tanto para as empresas quanto para as pessoas físicas. Com aperto nesse recurso, o crescimento do país sofre embaraço:
— Não digo que a economia vai desacelerar como um todo, mas os juros vão atrapalhar a aceleração do crescimento por demais fatores. Uma das coisas que tem auxiliado no crescimento econômico é o investimento, que tem puxado a economia. E essa nova alta taxa tende a afetar os investimentos.
O diretor-executivo da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, reforça que os efeitos mais estruturais na economia ocorrem alguns meses após as altas no juro, mas tendem a diminuir o consumo e o crescimento do país:
— A tendência é de que essas altas continuadas acabem impactando na decisão do consumidor de comprar, de financiar, de se endividar. Então, o efeito na economia sempre demora alguns meses.