Um dos principais alimentos no cardápio dos brasileiros, as carnes estão entre os produtos que mais pressionaram a inflação de novembro no país. Com alta de 8,02% no período, o item teve participação importante dentro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que ficou em 0,39% no último mês. Além da proteína animal, as passagens aéreas também exerceram tensão sobre o índice.
Até o meio do ano, as carnes apresentavam queda nos preços no recorte mês a mês. Nos últimos meses, essa tendência se inverteu e o produto vem influenciando a alta de alimentação e bebidas, um dos grupos com maior peso dentro do IPCA, e que cresceu 1,55%. O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que diversos fatores ligados à produção e ao consumo explicam esse cenário:
— Isso tem a ver com o ciclo da pecuária, que conta com uma oferta menor de carne, tem a ver com o aumento do volume de exportação e também com a própria demanda doméstica. A gente está com desemprego de 6%, e isso significa que você tem um crescimento da massa de salário e do poder de compra. Então, proteína é uma coisa que as famílias demandam muito. Se elas têm mais renda disponível, elas vão consumir mais, isso também ajuda a pressionar os preços.
Dentro do grupo de transporte, que teve alta de 0,89% em novembro, o principal item com destaque no sentido altista foi a passagem aérea (22,65%). Segundo o gerente do IPCA e INPC, André Almeida, esse avanço tem influência sazonal dessa época do ano:
“A proximidade do final de ano e os diversos feriados do mês podem ter contribuído para essa alta”, explicou o gerente, em comunicado.
O economista André Braz afirma que esse movimento também responde ao momento do mercado de trabalho, que se mantém resiliente e acumula queda nas taxas de desemprego nos últimos trimestres:
— De novo uma demanda mais forte, o mercado de trabalho aquecido também favorece uma procura maior de passagens. E esse é um setor que pode continuar registrando alta em dezembro. Não sei se tão intensa quanto a do mês passado, mas a parte de passagens aéreas tem tudo para ficar mais cara em dezembro.
No grupo despesas pessoais (1,43%), o aumento do cigarro (14,91%) puxou a alta, segundo dados do IBGE.
Energia elétrica foi âncora
Mesmo ainda mostrando alta geral nos preços, a inflação apresenta desaceleração ante outubro, quando anotou avanço de 0,56%. Olhando os grupos que apresentaram queda em novembro, o destaque fica por conta de habitação (-1,53%). Esse resultado foi puxado pelo subitem energia elétrica residencial, que caiu 6,27% em novembro diante da vigência da bandeira tarifária amarela a partir de 1º de novembro.
Braz afirma que a energia elétrica “foi uma âncora importante”. Se não fosse esse recuo, o país amargaria uma inflação ainda mais alta no mês de novembro.
Próximos meses
No ano, a inflação acumula alta de 4,29%. Nos últimos 12 meses, o avanço está em 4,87%. A meta de inflação para 2024 é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, se fechar o ano em até 4,5% será considerada cumprida.
Para os próximos meses, o economista estima que os comportamentos observados no último mês devem seguir agindo sobre o IPCA:
— Alimentação deve continuar como protagonista, passagem aérea também deve continuar subindo e a energia vai cair mais uma vez porque, na passagem de novembro para dezembro, entra em vigor a bandeira verde, e isso deve provocar uma queda de 2%. Uma queda menor do que a verificada em novembro, mas ainda assim isso vai impedir que a inflação suba mais.
Com isso a inflação deve fechar em 2024 acima da meta, segundo Braz. O economista afirma que a taxa deve ficar por volta de 4,6%, 4,7%, a depender do índice de dezembro.