Em um ambiente com aumento de pressões internas e externas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) define, nesta quarta-feira (11), o novo patamar do juro básico do país, na última reunião do ano. Após o aumento de 0,5 ponto percentual em novembro, que colocou a Selic em 11,25% ao ano, a tendência é de aceleração na elevação da taxa, segundo especialistas.
A mais recente edição do boletim Focus, pesquisa que reúne analistas de mercado, aponta que a taxa básica deve subir 0,75 ponto percentual, fechando o ano em 12%. Essa é a projeção que aparece com mais força entre os agentes nos últimos dias. No entanto, alguns especialistas e entidades apostam em uma alta que pode chegar a um ponto percentual.
Aumento dos riscos fiscais após pacote de corte de gastos que não empolgou, inflação persistente, dólar em alta e economia aquecida estão entre os principais pontos que devem bancar aceleração no aumento da Selic, segundo especialistas.
Ambiente fiscal
O mercado e parte dos agentes econômicos parecem não confiar no compromisso do governo com o equilíbrio fiscal. Esperado há semanas, o pacote de cortes de gastos foi ofuscado pelas mudanças propostas no Imposto de Renda (IR), provocando elevação do dólar e desconfiança. Formatado para reforçar a responsabilidade fiscal do governo, o conjunto de mudanças, que pega desde o salário mínimo até os supersalários, não conseguiu o efeito desejado.
— O pacote fiscal anunciado de redução de gastos foi muito tímido, decepcionou, veio junto com o anúncio da isenção de imposto de renda, que dá uma renúncia fiscal de R$ 35 bilhões, ainda que haja uma compensação do outro lado com aumento de imposto para quem ganhar acima de R$ 50 mil. Ou seja, no final das contas, a grande sinalização do governo foi a de que o pacote não vai ajudar a equilibrar a relação dívida-PIB, que é o principal ponto — analisa o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
O risco fiscal vem sendo destacado nos últimos comunicados do Copom entre os fatores que justificam o aumento da Selic.
Inflação distante da meta
A inflação atual e a expectativa de alta de preços no futuro também pressionam a autoridade monetária. Na última reunião, o Copom destacou que o cenário econômico exige uma política monetária contracionista, destacando os perigos trazidos pela inflação desancorada.
Na última edição do boletim Focus, divulgado na segunda-feira (9), a estimativa de inflação para 2024 subiu de 4,71% para 4,84%. Em novembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 4,87% nos 12 meses. Em ambos os casos, o índice está acima do teto. A meta de inflação para 2024 é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, se fechar o ano em até 4,5% será considerada cumprida.
Com inflação dando sinais de resistência e aceleração, a autoridade monetária tende a ser mais agressiva na elevação do juro.
Mercado de trabalho
Outro sinal que preocupa o BC é a resiliência do mercado de trabalho. A taxa de desemprego do país recuou para 6,2% no trimestre encerrado em outubro, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O mercado de trabalho aquecido costuma incluir mais pessoas no rol de consumidores e isso aumenta a demanda, pressionando a inflação de serviços, que segue no radar do BC.
“O Comitê avalia que o dinamismo observado no mercado de trabalho é compatível com a inflação de serviços, a qual se mantém acima do nível requerido para o cumprimento da meta de inflação”, destacou o Copom na última reunião.
Crescimento acima do esperado
O mais recente resultado do Produto Interno Bruto (PIB), que confirmou alta de 0,9% no terceiro trimestre, destacou economia ainda aquecida e com desaceleração lenta. O crescimento da atividade acima do esperado mostra que a demanda segue em expansão no país. Isso também gera tensão sobre a inflação de serviços, gerando preocupação para o Copom. Uma das formas de frear esse avanço é a alta no juro.
Cenário externo e dólar
Desde o anúncio do pacote de gastos, o dólar subiu para a casa dos R$ 6 e estacionou nesse patamar. Como o dólar pressiona a inflação, também é um dos fatores de risco no radar do Copom. Com a moeda mais elevada, atingindo picos na série histórica, aumenta a aposta por aceleração na elevação do juro básico do país.
Além disso, fatores internacionais, como a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos também aumenta a incerteza sobre o futuro do juro no país americano. Juro alto em economias mais fortes e estáveis, como é o caso dos EUA, atraem investidores para esses países. Isso ocorre porque os agentes colocam mais dinheiro em locais mais seguros e com menos riscos de oscilações. Isso provoca a saída de capitais de países emergentes, como o Brasil. Com menos dólares no Brasil, a valorização da moeda frente ao real tende a ser maior.
— Se ele (Donald Trump) confirmar o discurso dele de protecionismo, isso deve elevar o custo de produção de algumas matérias-primas, conflitos comerciais com China, e tudo isso deve acabar tendo um cenário um pouco mais negativo para o Banco Central a partir do ano que vem — destacou Agostini.