Para que serve um velho? Parece uma pergunta grosseira, mas a reflexão é importante. Em toda a história da civilização, os velhos exerceram um papel crucial. Na Roma Antiga, o conselho de anciãos, que já era comum nas sociedades orientais, ganhou o nome de Senado — e esses anciãos passaram a fiscalizar as autoridades e controlar as finanças públicas. Alexandre, o Grande, aos 30 anos de idade era praticamente o dono do mundo, mas seu conselheiro, seu professor e mentor intelectual era o velho Aristóteles.
Quer dizer: os mais velhos, em dado momento, sempre deixaram a linha de frente para abrir espaço aos mais jovens, mas continuavam, até o fim da vida, valorizados como pessoas que tinham um atributo muito útil: a sabedoria. Porque o jovem é necessário quando precisamos de iniciativa, ímpeto e energia, mas nada disso basta sem prudência, traquejo e maturidade — virtudes que vêm com a experiência.
Só que hoje as coisas mudaram. Pessoas velhas parecem ter mais dificuldade para deixar a linha de frente. Parecem confusas sobre qual é o seu papel, sobre como podem contribuir sem estar na liderança. Por quê? Porque houve, de 30 anos para cá, uma transformação inédita na história da humanidade: pela primeira vez, um volume brutal de conhecimento passou a ser transmitido das gerações mais novas para as gerações mais velhas.
A situação do velho de hoje é a seguinte. Quando era jovem, há algumas décadas, sua meta era entrar no mundo dos velhos — porque eram os velhos que detinham o saber e o sucesso na carreira. Agora, que virou velho, sua meta é entrar no mundo dos jovens, porque são os jovens que detêm o saber e o sucesso na carreira. Quem aguenta uma rasteira dessas?
Se a meta é entrar no mundo dos jovens, não dá para sair da linha de frente. Todo mundo, não importa a idade, precisa estar discursando, postando nas redes, exibindo sua imagem, dominando tecnologias, demonstrando vigor e liderando alguma missão. Como Biden liderava, até semana passada.
Aos 81 anos, ele fez o que historicamente os mais velhos sempre fizeram: cedeu lugar para alguém mais jovem encabeçar uma tarefa extenuante. A dúvida é se Biden continuará valorizado pelos atributos que tem — e que a experiência o ajudou a construir. Porque o jovem, tudo bem, ele pode até ter conhecimento. Mas sabedoria, que é saber empregar o conhecimento, isso ninguém tira dos velhos — e nunca ela foi tão necessária.