No meio da semana passada, Grêmio e Inter deram uma resposta consistente diante do desafio que sua performance anterior determinou a cada um. Não era cogitado que o Tricolor perdesse em casa para o Huachipato, três dias depois de ser campeão gaúcho. Era ainda menos razoável supor que o Colorado perdesse dois pontos no Beira-Rio para o Tomayapo. Em dois dias, os dois gigantes gaúchos tropeçavam contra times pouco expressivos e levantavam a legítima dúvida junto à imprensa e torcida de que ficariam pelo caminho antes mesmo da dificuldade real aparecer para cada um na Libertadores e na Sul-Americana.
Pelo investimento que pretendia fazer no meio do ano, o Grêmio teria que arcar com a consequência de sair da Libertadores na fase inicial num grupo absolutamente comum. Pelo investimento já realizado na janela de início de temporada, o Inter agregaria a seu caldeirão de insucessos uma eliminação prévia na Sul-Americana, num grupo ainda mais fácil do que o do rival.
Mesmo cronistas experientes não estavam conseguindo medir o tamanho da decepção e da crise que a dupla Gre-Nal enfrentaria caso não respondesse positivamente ao desafio que tiveram nesta terça (23) e quinta-feira (25).
A reviravolta gremista em La Plata
A primeira resposta veio do Grêmio, ao vencer cheio de méritos o Estudiantes, em La Plata. Com aqueles ingredientes que boa parte da torcida gremista gosta, o time do Renato Portaluppi mais do que sobreviveu na Libertadores. Renasceu na competição com chance real de classificação e, mais, liderança. O treinador foi o protagonista da reação com uma escalação autoral e trocas durante o jogo que também desafiavam a lógica.
Ao escolher Rodrigo Ely e não Gustavo Martins, e fazer entrar depois a dupla de meninos atacantes já com um jogador de linha a menos, Renato apostou todas as fichas em seu instinto e na sua competência para ler o jogo, com um olhar totalmente independente do que recomendaria a cartilha de cuidados de quem passa a jogar com dez. A derrota cairia no seu colo; a vitória vai para sua conta na mesma medida.
Neste fim de semana, o treinador anuncia força máxima possível contra o Bahia na Fonte Nova. Se optar por um time Z, está cacifado. Terça-feira (1º), o Grêmio estará no interior do Paraná em busca de mais uma Copa do Brasil, competição que disputa com a naturalidade de quem foi seu primeiro campeão no longínquo 1989.
Há experientes reabilitados, como Pepê e João Pedro Galvão. Existem meninos com pinta de cheque em branco, como Nathan Fernandes e Gustavo Nunes. À disposição, um goleiro sedento por novos ares, Rafael Cabral, e um meio-campista desafiado a zerar a má impressão de quando saiu do rival sem deixar saudade, Edenilson.
A guinada do Inter na Sul-Americana
A resposta do Inter recoloca no trilho a classificação na única vaga direta do grupo na Sul-Americana. Eduardo Coudet andou se atrapalhando com o elenco que a direção colocou à sua disposição. Soube, porém, se valer da infinita confiança que o presidente Alessandro Barcellos tem nele para reencontrar o rumo que parecia natural no início do Gauchão.
No estadual, via-se a construção de um Inter propositivo, veloz e, às vezes, encantador. Essa impressão positiva se manteve e até reforçou depois do primeiro grande teste, o Gre-Nal do Beira-Rio. No entanto, sucumbiu tristemente assim que o time foi exigido na hora decisiva de se classificar à final do campeonato.
O jeito como o Juventude conteve o Inter nas duas partidas levantou a terrível suspeita de que Coudet dependia de um único formato de time. Estudado, contido, teria problemas ao longo do ano e lá iria outra temporada sem medalha no peito e taça no armário. Foi quando o argentino abriu a mente para outras possibilidades e mudou o desenho da sua equipe.
Duas vitórias nas duas primeiras rodadas do Brasileirão reanimaram a torcida, e nem a derrota para o Athletico-PR, em Curitiba, fez voltar o temor gerado ao fim do Gauchão. Ainda assim, faltava ao Inter exercer seu óbvio favoritismo contra o Delfín na Sul-Americana. Mesmo sem Aránguiz, Alan Patrick e Valencia, ganhou o jogo no Equador e decidirá, em duas partidas no Beira-Rio, a vaga do grupo.
Para quem está tanto tempo sem ser campeão, não cabe desprezar competição nenhuma, muito menos uma que leva à Libertadores e granjeia prestígio internacional.
Domingo (28) à noite, o Inter enfrenta um dos candidatos a rebaixamento no Brasileirão ainda desfalcado de seus protagonistas, o Atlético-GO. Não é um jogo "tropeçável". Quem quer ser campeão brasileiro pode trocar pontos com gigantes do seu tamanho, desde que seja implacável contra times menores e menos qualificados.
À exceção da torcida do Palmeiras, que dorme no colchão seguro de quem tem um time inabalável comandado por um técnico capaz de potencializar o máximo de cada jogador do elenco, nenhum time brasileiro proporciona à sua gente dias de paz absoluta.
O melhor elenco da América Latina ainda não garantiu a Tite calmaria suficiente. O Flamengo tem um empate, uma vitória e uma derrota no seu grupo. O treinador, do alto do tamanho que alcançou, não mede palavras para dizer que sim, até o clube carioca será obrigado a manobrar preservações e desgastes em busca dos melhores resultados.
Tite já enfrenta resistências de flamenguistas notórios, mas é apoiado integralmente pelo maior de todos, Zico. Os dias podem ser muito duros até na bonança.