Embora continue vulnerável a múltiplos fatores - da taxa de juro nos Estados Unidos ao conflito no Oriente Médio -, o dólar no Brasil vem se tornando, de forma crescente, Haddadependente.
No mês em que o câmbio cruzou três barreiras psicológicas - em junho, a cotação avançou do patamar de R$ 5,20 para o de R$ 5,50 -, foi uma declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que freou a escalada.
Agora que se aproxima de nova fronteira minada, a dos R$ 5,80, a inclinação é suavizada, outra vez, por frases do ministro. Mas o que de fato tem poder tranquilizador são as medidas que o ministro vem adotando, por isso tem crédito. Para isso, até onde se sabe, será preciso esperar até a próxima semana, para quando está previsto o anúncio.
Outros elementos que determinam variações cambiais no Brasil seguem no cenário, especialmente às vésperas de uma eleição nos Estados Unidos. Mas na corda esticada em que se transformou o acompanhamento da política fiscal, Haddad ainda é a bandeirinha que define o lado vencedor.
Como vazou cedo a informação de que estava no forno um "pacote de maldades" - o ministro, obviamente, odeia a expressão que marcou quase todos os conjuntos de medidas de cortes de despesa no Brasil -, o mercado se exaspera com a espera. Por isso, há chances de que um novo patamar, inédito no governo Lula, seja cruzado antes do anúncio.
Ministra do Planejamento, Simone Tebet afirmou que o pacote será "consistente". Haddad acrescentou que as medidas vão sustentar o arcabouço fiscal no longo prazo. Para que isso se concretize, seria preciso alterar o maior causa de aumento na despesa, a vinculação dos gastos com saúde e educação à receita, o que necessitaria de emenda constitucional.
Na quarta-feira (30), o ministro da Casa Civil, Rui Costa, comprometeu-se por escrito (acima) com o cumprimento do arcabouço, "enquadrando as despesas dentro das regras da meta fiscal". O que pareceria óbvio em outro governo é um enorme avanço em uma equipe na qual se cultiva a diferença de posições.
Também surgiu a tese de que a equipe econômica pretende pegar carona em uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional). Em tese, seria "apenas" para acelerar a tramitação das medidas. Mas se a ambição é de fato sustentar o arcabouço a longo prazo, uma PEC será necessária por conteúdo, não só por forma.