Quando foram descobertas as gigantescas jazidas no pré-sal, na primeira década deste século, especialistas advertiram para o risco da "maldição do petróleo", a combinação entre grande fonte de receita, a forte oscilação de preços e a tentação do autoritarismo que levam a um crescimento econômico vulnerável.
Quase duas décadas depois, o Brasil se transformou no nono maior produtor de petróleo do planeta, com entrada anunciada na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e outra maldição embutida: a da Petrobras.
No governo anterior, a estatal foi achincalhada pelo então presidente, sofreu intervenção e teve quatro presidentes - além de uma desistência, a de Adriano Pires. No atual, interesses políticos e cobiça por dividendos (parte do lucro da empresa que vai para seus acionistas) voltam a abalar a maior companhia do país. Parece haver, também, uma "maldição da Petrobras".
Quando o nome de Jean Paul Prates foi anunciado para a missão no governo Lula 3, a coluna foi um tanto surpreendida pela boa impressão que provocou tanto no mercado quanto no segmento. Embora tivesse construído o início de sua carreira na área, Prates havia derivado para a política ao se eleger senador pelo Rio Grande do Norte.
Depois, extinguiu a Paridade de Preços de Importação (PPI) sob críticas, mas com aprovação no mercado financeiro, o que foi uma façanha. Também anunciou uma nova política de distribuição de dividendos com menos ruído do que o temido. Mas parece prestes a sucumbir aos interesses políticos e à cobiça por dividendos.
O contexto é kafkiano: o atual presidente queria distribuir ao menos parte dos dividendos extraordinários da Petrobras, mas foi impedido por movimentações palacianas. Segundo se especula, dos ministros da Casa Civil, Rui Costa, e de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Na quinta-feira (4), surgiu a informação de que os dois se aliaram ao colega da Fazenda, Fernando Haddad, para abocanhar a parte do governo na distribuição do lucro extra entre os acionistas.
O valor estimado da distribuição de metade dos dividendos extraordinários é de R$ 60 bilhões, dos quais caberiam à União, que tem 28,6% do capital total, pelo menos R$ 12 bilhões. Seria um reforço providencial no caixa do Tesouro que persegue a meta de déficit zero. Mas o custo político desse reforço pode ser muito alto. A crise da Petrobras expõe um governo dividido, incapaz de resolver interna e discretamente suas divergências.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo