Se até a nomeação do general Joaquim Silva e Luna ainda havia a ilusão de frear uma inflexão antiliberal no Planalto, o próprio Jair Bolsonaro se encarregou de desfazer o engano.
Além do comando da Petrobras, o presidente avisou que vai fazer "mais trocas", "meter o dedo na energia elétrica" e fazer mudanças "não de bagrinho, de tubarão". O conjunto de ações e declarações aponta uma segunda-feira de pânico no mercado financeiro, aquele que Bolsonaro chamou de "irritadinho" há poucos dias.
E não se trata "apenas" de novas perdas de valor de mercado da Petrobras, projetadas entre R$ 50 bilhões e R$ 100 bilhões, depois da erosão de R$ 28 bilhões na sexta-feira. Economistas como Paulo Feldman, ouvido neste domingo pela GloboNews, estimam que a desconfiança pode levar o dólar a R$ 7. Projetar câmbio é missão difícil, mas parece inevitável que o real se desvalorize. Sem mudança na política de preços da Petrobras enunciada pelo próprio Bolsonaro, isso exigiria novos reajustes nos combustíveis.
Outro impacto deve ser a elevação do risco Brasil. Medido pelo título que representa seguro contra eventual calote aos credores do país, o Credit Default Swap (CDS), vinha caindo nos últimos seis meses (-28%), mas subiu ao redor de 6% na semana passada. Mais uma consequência previsível é a alta nos juros futuros, que representam aumento de custo no financiamento de empresas.
Um dia ruim já estava contratado. As ações da Petrobras haviam caído 7,92% na sexta-feira, apenas com a ameaça de intervenção, que não se confirmou antes do encerramento da sessão na bolsa. Em Nova York, na negociação com papéis que vai além do fechamento, o chamado "after market" (depois do mercado), os da estatal chegaram a desabar 15% depois de Bolsonaro confirmar o general Joaquim Silva e Luna para a presidência.
As especulações sobre a permanência do ministro da Economia, Paulo Guedes foram acalmadas com sinais de que havia a percepção da equipe, que o episódio seria restrito à desvalorização da Petrobras e não afetaria a pauta liberal de ajuste e reformas. Por isso, Guedes tratou de tranquilizar os que temiam outra "demissão", a da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que determina necessidade de suprir o buraco na arrecadação com isenções de impostos, como o de PIS-Cofins sobre diesel e gás de cozinha, com outros tributos. Assegurou que providenciaria a compensação.
As novas ameaças de Bolsonaro apontam para o segundo cenário, como se o presidente mandasse recado a quem ainda acredita que a mudança na Petrobras seja pontual, não uma inflexão antiliberal. Para agravar o desconforto de Guedes, à demissão sumária de Castello Branco, amigo do ministro, adicionou agressão verbal:
— Parecia exorcismo quando falei que não ia prorrogar por mais dois anos o mandato do cara (Castello Branco). Compromisso zero com o Brasil, nunca ajudaram em nada (...). Não é aumentando o preço de acordo com o petróleo lá fora ou o dólar aqui dentro, é mais do que isso. A preocupação é ganhar dinheiro em cima do povo.
Se não estivesse gravado em vídeo, seria difícil acreditar. Executivos da Faria Lima, a avenida de São Paulo onde circulam as chaves dos cofres do mercado financeiro, contêm declarações públicas para não piorar o clima. Mas pessoas que foram entusiastas da candidatura de Bolsonaro já mandaram mensagens assim aos amigos:
— Imagina se vai privatizar algo. Ele é pelo Estado grande, é populista, sindicalista de milico, pais de milicianos.