Ao fazer ameaças à Petrobras, Jair Bolsonaro já havia provocado o tombo de 7,92% das ações da empresa. Mas logo depois do fechamento do mercado, na sexta-feira, anunciou a troca do presidente da companhia.
Sai o reconhecido Roberto Castello Branco, entra mais um militar: o general Joaquim Silva e Luna, presidente de Itaipu que atuou como ministro interino de Defesa na gestão Temer.
Um general vai comandar a Petrobras, como o gaúcho Ernesto Geisel na ditadura. A repercussão deve ir muito além da variação no mercado financeiro. Ao atropelar a maior companhia brasileira para tranquilizar amigos caminhoneiros, Bolsonaro assume o risco de consequências imprevisíveis.
É verdade que são muito fora da curva os aumentos nas refinarias anunciados na quinta-feira (18), de 10% na gasolina e de 15% no diesel. Representam acúmulo ao redor de 35% e 28%, respectivamente, nos primeiros 50 dias de 2021.
Mas a reação correta seria rever a formação de preços em linha com o que fazem países desenvolvidos, como a Dinamarca, não agir como líder populista de republiqueta de baixa credibilidade e abrir mão de receita com rombo nas contas sem anúncio de compensação.
Antes que Bolsonaro incendiasse as expectativas sobre a Petrobras, o mercado já havia ligado o radar da suspeita com o atraso da estatal nos repasses do aumento do petróleo sobre os combustíveis no Brasil. A confiança não foi recuperada depois do reajustaço, disse à coluna Walter de Vitto, analista do setor na Tendências Consultoria Integrada:
– Mudanças sem anúncio público na política de preços criam dúvidas sobre a credibilidade da gestão.
A queda nas ações da Petrobras provocou perda de R$ 28,2 bilhões no valor de mercado da empresa. Novas e maiores desvalorizações podem ocorrer, dependendo dos próximos passos de Bolsonaro e Silva e Luna. No after market de Nova York, os papéis desabaram 15% depois do anúncio da troca. O cargo que o general deixou vago em Itaipu deverá ser ocupado pelo Centrão. No Ministério da Economia, reina o estupor.
Ao meter o pé na porta da Petrobras, Bolsonaro faz o oposto do que cobra da estatal: em vez previsibilidade, oferece mais incerteza. Um de seus argumentos é dar mais transparência à Petrobras. Mais clareza faria bem à estatal? Sem dúvida, inclusive para explicar os dados do anuário da Agência Nacional do Petróleo (ANP) expostos no gráfico abaixo. O aumento da importação de derivados, como diesel e gasolina, num país que é exportador líquido de petróleo, acentua a necessidade de repassar custos.
A coluna perguntou a um interlocutor de Bolsonaro que costuma justificar as ações do presidente ponderando que ele é um "animal político"quais serão os possíveis desdobramentos. A resposta foi curta:
– A ver. Bom, não é.