Não haverá, agora, posse oficial de Caio Paes de Andrade, mas o novo presidente da Petrobras já dá expediente. Conforme informações da companhia, a cerimônia será realizada depois da confirmação pela assembleia-geral prevista para o final de julho.
Até lá, o novo comandante da maior empresa do Brasil começa a cumprir algumas de suas missões. O que pediu publicamente o presidente Jair Bolsonaro dias antes da confirmação de Andrade foi a mudança da política de preços da estatal, chamada Paridade de Preços de Importação (PPI, veja detalhes lá embaixo):
— Qual a ideia deste novo presidente da Petrobras? Obviamente, vai trocar seus diretores, não posso ser eleito presidente, tomar posse e não trocar os ministros. E esses novos vão dar uma nova dinâmica, estudar a questão do PPI. Se for o caso, o próprio conselho muda a PPI.
A atual diretoria é composta por oito integrantes, boa parte dos quais operaram sob o comando dos três últimos presidentes, Joaquim Silva e Luna, José Mauro Coelho e Fernando Borges, presidente interino entre a renúncia de Coelho e a posse de Andrade. Alguns estão no cargo desde o primeiro presidente da Petrobras no governo Bolsonaro, Roberto Castello Branco, protagonista da mais recente polêmica envolvendo a Petrobras — a afirmação de que mensagens em seu celular "incriminariam" o presidente.
A tarefa de substituir oito diretores não será fácil em um momento em que há mais dúvidas do que certezas sobre o futuro da Petrobras. A aprovação de Andrade para a presidência foi vista, interna e externamente, como uma concessão para evitar novos conflitos alimentados pelo presidente e pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que chegou a defender mudança na Lei das Estatais para facilitar mudanças na Petrobras. A confirmação de Andrade foi considerada um "mal menor" ante ameaças mais inquietantes.
Nos próximos dias, será possível avaliar se essa percepção era correta. Um dos votos contra a escolha de Andrade foi do conselheiro Francisco Petros, respeitado integrante de outros colegiados. Presidente do comitê de elegibilidade, Petros argumentou, na apreciação do nome nessa instância (confira na ata da reunião, clicando aqui):
"Muito embora tenha estudado em renomadas universidades norte-americanas, o que é louvável, a combinação deste inegável mérito com a correspondente experiência profissional está a meu juízo, muito aquém às necessidades de governança e gestão da Petrobras. A experiência mais constante no tempo e relevante do ponto de vista da formação de conhecimento gerencial (...) foi em empresas cuja complexidade é substancialmente menor que a da Petrobras. Ademais, uma rápida avaliação dos problemas nos quais está mergulhada a companhia indicam que um candidato com experiência na gestão de grandes empresas e/ou órgãos da administração pública e do Estado é muito necessária. Neste sentido, avalio o candidato sem as aptidões necessárias para o exercício do cargo em vista da interpretação das normas cabíveis. Vale dizer que esta avaliação pode até estar equivocada da minha parte, caso a gestão do candidato seja um grande sucesso. Mas, aqui, vale uma espécie de “princípio da prevenção”: não se deve incorrer num risco cuja avaliação ex ante não tenha indicações sobre a razoabilidade da decisão. O futuro é opaco, mas a avaliação disponível é a que temos sob os olhos."
Como o próprio Bolsonaro sabe, a mudança da PPI não depende da diretoria, mas do conselho. Provavelmente, a missão de Andrade vai esbarrar em alguma resistência, mas como a assembleia-geral do final de julho também vai trocar cadeiras nesse colegiado, a pretensão é pavimentar esse caminho.
Dias antes da renúncia de Coelho, Petros havia sugerido congelamento de preços dos combustíveis por 45 dias, período durante o qual seria formado um grupo, com todos os agentes do mercado de combustíveis e do governo, para estudar fórmulas que permitam o funcionamento do mercado em bases sustentáveis para o país e as empresas.
Então, o que Andrade deve fazer é esticar esse congelamento ao máximo possível, idealmente por três meses, não por acaso o tempo que falta para o primeiro turno da eleição presidencial. A grande incógnita dessa estratégia é o comportamento do mercado de diesel. A Petrobras havia alertado para o risco de escassez desse combustível no segundo semestre, e o temor é compartilhado por vários agentes do mercado.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto de petróleo cru quanto de derivados, como o diesel. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia que funciona como um seguro contra perdas.