O temor com a escassez de diesel, a partir do mês de agosto, provoca uma corrida pela importação do combustível, que custa até R$0,35 a mais, por litro, no mercado internacional. Entre as distribuidoras nacionais – cuja dependência externa do produto já chega a um terço do que é consumido no país – o momento é de ampliar estoques para prevenir surpresas ocasionadas por problemas de oferta em razão da guerra e da previsão de eventos climáticos extremos nos Estados Unidos.
Na economia gaúcha, a movimentação gera receio adicional com os preços, em meio ao período de escoamento da safra de verão, e inaugura mais uma zona de pressão inflacionária nas cadeias produtivas. Para se ter uma ideia, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), a comparação do preço médio do diesel com o da gasolina ao consumidor final, em junho, chegou a 105% no Rio Grande do Sul e a 102% no Brasil.
Em igual período do ano passado, o percentual estadual era de 73,8% e o nacional de 79,2%. Ou seja, por aqui, conforme explica o ex-Superintendente de Abastecimento da ANP e economista-chefe da ES Petro, Edson Silva, a relação é mais acelerada, o que traz preocupações inflacionárias, uma vez que esse combustível é usado para o transporte rodoviário de cargas e, sobretudo, de alimentos.
Outro comparativo que reforça o ambiente desfavorável diz respeito ao volume de importações de diesel, que, no acumulado do ano, somava cerca de 1,6 bilhão de metros cúbicos, após avanço de 24% sobre o mesmo período de 2021. O problema, acrescenta Silva, é que, em valores, os dispêndios (pagamentos pelo produto) aumentaram 119%, atingindo a casa de US$ 1,4 bilhão.
Para o economista, esse dado reforça o percentual de defasagem contido nos preços praticados no Brasil e no Estado. Por isso, segundo ele, o pior ainda virá no segundo semestre, quando historicamente a demanda por diesel é ampliada no país.
— Se pegarmos somente o mês de abril, o volume importado teve alta de 11,3% em relação ao mesmo período ano assado, no maior volume registrado desde 2000, o início da série medida pela ANP. Isso não é algo que se pode ignorar, porque, diferentemente da gasolina, o diesel tem impacto muito maior na sociedade porque é o responsável pela movimentação do PIB nacional nas estradas e alimenta a produção agrícola — resume Silva.
Nesse contexto, um levantamento feito pelo jornal Estadão também demonstra que, em abril, a ANP emitiu 305 licenças de importação de diesel. No mês seguinte, essas autorizações saltaram para 433, o que representa uma quantidade 12 vezes maior do que a média registrada no primeiro trimestre de 2022, com 36 licenças mensais.
Abastecimento
Presidente do Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do RS (Sulpetro), João Carlos Dal´Aqua, enfatiza que a opção pelas importações traz um “distensionamento” para o cenário de abastecimento e afasta a possibilidade de falta do combustível nas bombas. Por outro lado, afirma o executivo, hoje, o diesel que vem de fora custa cerca de R$ 0,35 a mais do que o produzido pela Petrobras.
Com base nessa realidade, diz o presidente da Sulpetro, não há saída capaz de driblar os reajustes dos preços praticados nos postos. Porém, de acordo com Dal´Aqua, os eventuais aumentos ficariam em patamares menos agressivos dos que os habituais e distribuídos ao longo do tempo, justamente, para que o mercado consiga absorvê-los, aos poucos:
— O que chega de fora é mais caro, haverá repasse nos postos, mas não vai faltar. Não há cenário de desabastecimento e os reajustes serão escalonados, porque é necessário fazer a calibragem com o que se consome da Petrobras, que deverá conter de 20% a 30% do diesel importado. Ajuda no fornecimento e a expectativa é que não altere tanto os custos.
Custos
Na prática, conforme explica o vice-presidente de transportes do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística no RS (Setcergs), Diego Tomasi, significa, sim, mais um fator de pressão sobre os preços. Segundo ele, o impacto ocorre porque as distribuidoras que importam o diesel tendem a aplicar reajustes que não são acompanhados da ampla divulgação dada toda vez que a remarcação é feita pela própria Petrobras.
— Sem os anúncios, o aumento vem pelo próprio posto de combustíveis e, às vezes, os embarcadores não aceitam ou não conseguem absorver. Isso acontece em percentuais menores. É a lei da oferta e da procura e, no RS, é preciso abastecer mais em razão da safra e, com isso, os valores na bomba também sobem — comenta.
Safra
Ainda que se tenha efeito, o economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz, lembra que é preciso considerar a quebra da safra. Ele recorda que a perda apurada com a estiagem superou os 14 milhões de toneladas de grãos no RS. Ou seja, a demanda por caminhões para o escoamento também será reduzida em igual proporção, argumenta.
— A colheita foi bem menor. Se fosse possível isolar o RS, não seria um problema tão grave, mas não existe um único mercado, existe o mercado de combustíveis do país e, em outros Estados, a demanda está aquecida e trará efeito para os custos dos fretes — conclui.