Desde a última semana, após a Petrobras reajustar em 5,2% o valor do litro da gasolina e 14,2% o do diesel, os preços dos combustíveis inverteram nos postos. Em Porto Alegre, GZH circulou por alguns pontos de venda na segunda-feira (20), logo após o reajuste, e o diesel foi encontrado a R$ 7,89 o litro, enquanto a gasolina era vendida por R$ 7,39 no mesmo local. A situação em que o combustível utilizado nos caminhões está mais caro do que o mais comum em carros de passeio é sem precedentes no Brasil.
Segundo o especialista no mercado energético, Marcelo Gauto, o principal motivo para este cenário é a invasão russa na Ucrânia, que já dura quatro meses. Sanções impostas por países da Europa e os Estados Unidos, incluem o boicote ao diesel russo, que antes abastecia 15% do mercado global. De acordo com Gauto, a Petrobras já está operando próximo da capacidade máxima de refino do petróleo, e que cerca de 30% do diesel brasileiro é importado.
Além do preço elevado, a crise global de combustíveis gera risco de desabastecimento. Na última semana, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) chegou a sugerir que a Petrobras adiasse as paradas já programadas para manutenção de refinarias no segundo semestre do ano, como forma de não impactar a produção de diesel.
A guerra na Ucrânia tem feito com que países da Europa busquem o diesel em outros mercados, diminuindo a oferta do produto no mundo. No mercado internacional, o combustível está 60% mais caro do que o barril de petróleo.
— Hoje, 90% do diesel que vem para o Brasil é dos Estados Unidos. Por quê? O frete. É mais perto trazer o diesel para o Brasil dos Estados Unidos do que da Rússia. E a Europa tentando se livrar da dependência do diesel russo, está puxando petróleo e derivados de petróleo de outras praças. Inclusive dos Estados Unidos. Então estamos competindo hoje para comprar um navio de diesel com os europeus. Esse é o grande estresse. As cargas estão sendo muito desviadas para a Europa. Daria para trazer essa carga da Rússia? Daria. Mas muitas dessas empresas de transporte náutico são europeias ou norte-americanas e estão respeitando as sanções impostas — explicou.
Possíveis soluções
O especialista ainda elencou providências de curto e longo prazo que, na avaliação dele, poderiam aliviar o preço do combustível no Brasil.
Curto prazo
A redução da carga tributária sobre os combustíveis, que já vinha sendo praticada na Europa e agora foi aprovada pelo Congresso no Brasil, é uma medida apontada por Marcelo Gauto. Assim como a criação de vouchers para o consumidor final.
Longo prazo
Aumentar a capacidade de refino da Petrobras e diversificar os modais logísticos do país são citadas pelo especialista como medidas estruturantes que, a longo prazo, podem evitar novas crises como a atual.
— Quando a gente olha para o horizonte, nós vemos a necessidade de diversas medidas que precisam começar a ser trabalhadas hoje. Precisamos investir mais em hidrovias, investir mais em ferrovias. Temos que buscar caminhões mais eficientes. Os caminhões fazem somente dois ou três quilômetros com um litro de diesel. É baixo demais. São cargas pesadas, estradas ruins. Se tivéssemos caminhões que fizessem pelo menos cinco quilômetros com um litro, já estaríamos falando de uma redução de consumo — disse Gauto.