No Brasil, os preços já estavam muito parecidos. Depois do aumento de 5,18% na gasolina e 14,26% no diesel, o resultado era previsível: o combustível que move ao redor de 60% da movimentação nacional de carga se tornou o mais caro dos disponíveis nos postos de revenda.
Há cerca de 45 dias, a coluna havia abordado o tema quando soube que o diesel havia ficado mais caro do que a gasolina nos Estados Unidos e alertado para o risco de que o mesmo poderia ocorrer no Brasil. Mas não imaginava que seria tão rápido.
Como boa parte da alta do petróleo no mundo, o fenômeno da valorização do diesel também é global. Mas assim como parte do aumento dos combustíveis tem componentes nacionais (a alta do dólar, por sua vez, em parte provocada por decisões de governo), a virada nas relações de valor dos combustíveis também tem.
A parte global começou antes da guerra da Ucrânia e envolve investimentos reduzidos em refino, atividade considerada pouco rentável, e a transição energética, com maior atenção para outras fontes de energia. Com o ataque russo, só se agravou. A Rússia responde por quase 25% das exportações globais de diesel e ainda fornece produtos complementares a refinarias europeias. Além disso, para obter diesel com menor teor de enxofre, exigência ambiental em países mais desenvolvidos e em grandes cidades no Brasil, usa-se gás natural, que também disparou, o que deixou o processo mais caro.
A parte nacional da pressão vem da maior dependência de importação. Como a coluna já detalhou (clique aqui para reler), o Brasil precisa importar cerca de 30% do diesel consumido aqui, mas menos de 10% no caso da gasolina. Isso significa maior dificuldade de praticar preços de diesel mais baixos do que a referência internacional porque, nesse caso, os importadores não vão querer comprar diesel mais caro lá fora para vender mais barato no Brasil. Se venderem pelo preço que os remunere, ninguém vai querer comprar. Outro fator com menor impacto, mas que não pode ser desprezado, foi a redução na mistura de biodiesel, que provocou maior consumo do derivado de petróleo e elevou o risco de escassez.
No mundo, além dos Estados Unidos, o diesel está mais caro do que a gasolina na Suécia, na Alemanha e na França, considerando apenas a amostragem selecionada pela coluna. São países muito desenvolvidos, com logística que não depende desse combustível, por ter transporte de carga marítimo, fluvial e ferroviário. Mas até na Venezuela, onde há forte subsídio, o diesel "custa" mais. E no Irã, outro caso de forte intervenção estatal, o valor em dólares é irrisório, mas o do diesel é cinco vezes maior.
No levantamento da GlobalPetrolPrices.com (clique aqui para acessar), o preço do diesel no Brasil ainda não foi atualizado, então segue mais barato do que o da gasolina.
Os preços dos combustíveis (em US$ por litro, atualizados até 13/6)
País Diesel | Gasolina
Hong Kong 2,77 | 2,99
Suécia* 2,61 | 2,29
França* 2,18 | 2,18
Alemanha* 2,12 | 2,02
Uruguai 1,62 | 2,02
EUA* 1,51 | 1,37
Brasil** 1,34 | 1,41
México 1,13 | 1,15
Argentina 0,99 | 1,05
Colômbia* 0,59 | 0,60
Venezuela* 0,02 | 0,02
Irã 0,01 | 0,05
*países em que o diesel está mais caro ou com preço equivalente
** preços do Brasil não incluem novo reajuste
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A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto de petróleo cru quanto de derivados, como o diesel. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia que funciona como um seguro contra perdas.