Havia pressões ainda antes da pandemia, que se acentuaram com restrições e liberações. O ataque da Rússia à Ucrânia incendiou de vez qualquer previsibilidade no preço dos combustíveis. Tanto que, nos Estados Unidos, houve inversão histórica: os preços do diesel já superam, e em muito, os da gasolina.
Na foto ao lado, feita em Nova York e enviada à coluna por uma fonte, aparecem valores em dólares para um galão (3,8 litros). "Traduzidos" para reais e litros, equivalem a R$ 6,21 na gasolina e R$ 8,91 no diesel, que está em preço médio recorde nos EUA.
Nesta terça-feira (10), entra em vigor o aumento de 8,87% do diesel nas refinarias. Ainda antes, acumulava alta de 22% de janeiro a abril no Estado nos postos, o que já aproxima os valores dos dois principais derivados do petróleo. Embora exista expectativa de anúncio de aumento também da gasolina, fontes indicam que os cálculos de mercado da defasagem divergem dos da Petrobras, que apontariam relativo equilíbrio entre os preços nacionais e a referência internacional.
Ou seja, não haveria planos de reajustar a gasolina no curtíssimo prazo. No médio, dadas as circunstâncias, ninguém sabe. O petróleo pode voltar a encostar em US$ 140 ou cair abaixo de US$ 100, dependendo do que ocorrer na Ucrânia, na China e em várias outras latitudes. Mas porque há tanta pressão sobre o diesel?
Em primeiro lugar, o Brasil depende mais de importações desse combustível - como a coluna já mostrou, em 2021, o país importou 33,6% do diesel e "apenas" 9,6% da gasolina. Isso significa que, se a Petrobras mantém os preços abaixo da referência internacional, os importadores param de comprar e criam risco de desabastecimento.
Essa é uma questão nacional, mas nos EUA o diesel já passou a gasolina, então o problema é global. Conforme Décio Oddone, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a pressão sobre o diesel aumentou quando o preço do gás natural subiu na Europa, ainda antes da guerra, e as refinarias reduziram o uso dessa alternativa para reduzir o teor de enxofre. Com a retomada pós-pandemia e a guerra, só piorou, a ponto de afetar o outro lado do Atlântico.
— A Rússia responde por quase 25% das exportações globais de diesel. Sem falar nos volumes exportados pelos vizinhos que processam petróleo russo e nos produtos semiprocessados que refinarias europeias buscam na Rússia para fazer diesel. E a situação ainda não reflete o que pode ocorrer com as novas medidas adotadas contra a Rússia. Quando a União Europeia colocar em vigor as novas sanções (boicote a gás e petróleo russos, dentro de seis meses) e a China cancelar os lockdowns, pode haver um movimento relevante no mercado, entre 3 milhões e 5 milhões de barris ao dia, entre redução da oferta russa e a volta da demanda chinesa. Devemos ter um segundo semestre difícil — prevê Oddone.
Apesar do panorama acidentado, Oddone avalia que o preço do diesel nas bombas não deve ultrapassar os da gasolina no Brasil, principalmente porque a carga tributária sobre o combustível da classe média é muito mais alta do que a do usado para o transporte de cargas.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto de petróleo cru quanto de derivados, como o diesel. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia que funciona como um seguro contra perdas.