Com o preço do diesel no Brasil cada vez mais baixo do que a referência internacional, a Petrobras fez "mais ou menos" o que se esperava: anunciou reajuste de 8,87% a partir de terça-feira (10), 60 dias depois do mega-aumento que provocou a queda da direção que adotou altas de 18,9% na gasolina, 24,9% no diesel e 16% no gás de cozinha.
"Mais ou menos" porque o novo aumento não elimina sequer metade da defasagem, estimada em 23% pelo banco Modal e em 21% pela Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). Mas essa decisão a meias significa cautela (o que seria bom) ou constrangimento (o que é péssimo)?
Se for cautela, é positivo porque o preço do petróleo brent, maior referência da política de preços da Petrobras (veja detalhes abaixo) está oscilando muito. Em poucos meses, encostou em US$ 140 e caiu abaixo de US$ 100, flutuando entre a guerra na Ucrânia e o confinamento na China. Nesta segunda-feira (9) de anúncio de alta do diesel, por exemplo, caiu quase 6%.
Como essa volatilidade segue variáveis totalmente incontroláveis, é prudente não repassar toda a diferença que, ali adiante, pode diminuir. Ao contrário dos Estados Unidos, onde os preços realmente variam nos postos - sobem quando o brent aumenta, mas, sobretudo, caem quanto baixa -, no Brasil redução de preço de combustíveis é uma lenda no nível da cabeça de bacalhau: pouca gente já viu.
Se for constrangimento, é péssimo. No sábado, o presidente Jair Bolsonaro praticamente "furou" a Petrobras ao participar da abertura da Fenasoja, em Santa Rosa, como relatou a colega colunista Gisele Loeblein. Disse que um novo aumento seria "injustificável" e que "nesta semana, vocês vão conhecer um pouco mais do que é a Petrobras". Ou seja, quis preparar os espíritos de sojicultores e eleitores para o que viria.
Foi a enésima manifestação de hostilidade em relação ao maior contribuinte aos resultados recordes de arrecadação federal. Só faz sentido vinda de um candidato que não assume suas responsabilidades e quer passar ao eleitorado menos informado a impressão de que é uma vítima das circunstâncias.
Enquanto isso, a gasolina segue sem reajuste e com defasagem estimada em 25% pelo Modal e 17% pela Abicom. O brasileiro médio sente mais o aumento da gasolina, na hora de pagar o reabastecimento no posto, do que o do diesel, que será repassado a toda a cadeia produtiva. Afinal, o combustível que está na base de cerca de 60% de toda a movimentação de carga no país é um disseminador de inflação de primeira linha.
A política de preços da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.