O mega-aumento da gasolina (18,8%), do diesel (24,9%) e do gás (16%) e a atual política de preços da Petrobras são baseados em uma justificativa essencial: o Brasil precisa acompanhar a disparada dos preços internacionais porque, embora já seja o sexto maior produtor de petróleo do planeta, ainda depende da importação de derivados.
Mas, afinal, qual é o tamanho dessa dependência? A coluna mergulhou nas estatísticas de produção e importação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para dimensionar a causa dos nossos constantes sustos com os aumentos dos combustíveis.
Em grandes números, o Brasil produziu 111,35 bilhões de litros de derivados e importou 36,03 bilhões de litros em 2021. Ou seja, veio do Exterior 32,36% do que foi produzido. Nessa conta, entram todos os 11 produtos feitos a partir de petróleo: gasolina, diesel, gás de cozinha, mas também asfalto, coque, querosene de aviação e de iluminação, lubrificantes, nafta, óleo combustível, parafina e solventes.
A maior dependência é de diesel. No ano passado, foram produzidos no Brasil 42,85 bilhões de litros. A importação chegou a 14,4 bilhões de litros. Foi preciso complementar o volume nacional com 33,6% de importados. No caso da gasolina, todos os números são menores: a produção nacional alcançou 25,2 bilhões de litros, enquanto vieram de fora 2,42 bilhões de litros, o equivalente a "apenas" 9,6% do que sai das refinarias brasileiras.
O diagnóstico dessa dependência foi o que levou os governos do PT a querer ampliar a capacidade doméstica com a construção de mais refinarias no Brasil. Hoje, o resultado é bem conhecido: ao aplicar o que entendia ser a solução do problema, ampliou o alcance da corrupção que provocou gastos bilionários e duas instalações ainda inacabadas.
Além do problema da capacidade de refino, há outro, o da economicidade. Calma que a coluna explica o palavrão: como se viu na época da greve dos caminhoneiros, em 2018, a Petrobras não costuma usar todo o volume disponível em suas unidades. Na época, inclusive, a ocupação das instalações de refino estava bastante baixo.
A explicação da estatal é técnica: a cada barril de petróleo, é possível refinar uma determinada quantidade de diesel, gasolina e gás de cozinha, considerados produtos de alto valor e grande consumo. Mas é inevitável que, no processo, sejam obtidos derivados de menor preço, como coque e óleo diesel. Caso a capacidade seja elevada ao limite, a atividade deixa de ser lucrativa.
Atualização: quer checar os dados? Estão disponíveis no site da ANP e podem ser verificados clicando aqui. Só tem de fazer umas continhas...