Com o governo e o Congresso enredados na discussão de medidas capazes de amortecer o impacto a alta no preço dos combustíveis, a Petrobras não pôde mais esperar: nesta quinta-feira (10), aumentou a gasolina em 18,8% e o diesel em 24,9%.
Ainda não repassou toda a defasagem acumulada pela disparada do petróleo, mas já contratou uma inflação ainda mais explosiva para 2022.
Não houve acordo para votar o projeto que cria uma conta para evitar a disparada dos combustíveis na quarta-feira (9), como estava previsto. Haverá uma nova tentativa nesta quinta-feira (10), mas só vai dar conta de pressões futuras. A refinaria de Mataripe, privatizada no ano passado, já havia vendia a gasolina por valores 27,4% acima dos da Petrobras, e o diesel, 28,2%. Como fica na Bahia, os consumidores do Estado já pagavam preços muito mais alto do que a média nacional.
Também já havia restrição na venda de diesel por parte das distribuidoras, conforme adiantou à coluna o presidente do sindicato dos postos (Sulpetro), João Carlos Dal'Aqua. Como o Brasil não produz todo o combustível que consome, precisa de importação, e conforme o relato de Dal'Aqua, muitos já havia interrompido as compras no Exterior por conta da defasagem no mercado interno.
O presidente da Fetransul, Afrânio Kieling, também já havia adiantado à coluna que, caso houvesse reajuste do diesel, seria repassado imediatamente aos custos do frete. Nesta quinta-feira (10), depois do anúncio, confirmou:
— Não tem como, se não repassar, vai quebrar, fechar. Simples assim.
A coluna ainda perguntou a André Braz, coordenador de índices de preços do Instituto Brasileiro de Economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), o que vai ocorrer com a inflação a partir desses aumentos.
— Vai explodir — foi a resposta.
A coluna pediu cálculos mais precisos, e Braz projetou que o aumento da gasolina vai gerar alta de 1,24 ponto percentual, e o diesel, de forma direta, 0,06 ponto no IPCA. Somados, vão gerar carga extra de 1,3 ponto, dos quais dois terços ainda neste mês e um terço em abril. Isso vai fazer também com que o Banco Central (BC) tenha de recalcular a necessidade de alta do juro ao longo deste ano.
A gasolina é o item que mais pesa no cálculo do índice oficial da inflação, o IPCA: responde por cerca de 6% do indicador. Mas o diesel é o responsável por inflamar todos os demais preços, pelo mecanismo do frete: todos os produtos precisam chegar aos clientes, e a grande maioria desse transporte é rodoviário. O custo da guerra chegou ao nosso bolso.