Enquanto o debate no governo Bolsonaro se arrasta sem solução, o ambiente nos postos de combustível está "tenso", conforme descrição de João Carlos Dal'Aqua, presidente do Sulpetro, sindicato que representa esses estabelecimentos.
Segundo Dal'Aqua, não há qualquer problema com gasolina, mas o fornecimento de diesel enfrenta "estresse no fornecimento". Isso quer dizer que as distribuidoras estão restringindo as entregas desse combustível.
— A restrição não significa que tem postos fechados por falta de diesel. Ainda não. A Petrobras consegue abastecer. Pode faltar em um dia, ter no outro. Mas não temos informação de que alguém ficou sem produto. Os postos também estão relevando um pouquinho seus estoques. Em gasolina não tem restrição, está tudo normal. É no diesel que as dificuldades estão mais presentes — afirma Dal'Aqua.
Conforme o dirigente, essas restrições ocorrem desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia. O que mais preocupa o segmento, observa, é a indefinição sobre a política de governo. Enquanto a Petrobras não faz alterações de preços há quase dois meses, a refinaria de Mataripe, em São Francisco do Conde (BA), vendida pela estatal ao Mubadala, e a Refinaria Riograndense, de Rio Grande, também sob controle privado, já reajustaram seus preços em cerca de R$ 0,30.
— Estamos bem apreensivos. Há um movimento das distribuidoras sinalizando estresse no fornecimento, especialmente no diesel. Há restrições. Os postos colocam o pedido e torcem para que venha. Pode vir com redução. Se pede 10 mil litros, pode receber 5 mil. Ontem (terça-feira, 8), a Ipiranga avisou que vai dar prioridade aos postos com os quais tem contrato de exclusividade. Os independentes terão mais dificuldade — detalha.
O dirigente avalia que é preciso "alguma sinalização" de que o governo vai ao menos suspender a política de repasse integral:
— Com essa situação totalmente anormal, é preciso adotar condições diferenciadas, não dá para seguir a regra. Se houver movimento muito forte da Petrobras, preocupa. Então, estoques agora são uma questão crucial. O mercado vai ter de se adaptar, o que preocupa é o risco de falta.
Dal'Aqua pondera que não se sabe até que ponto as distribuidoras estão segurando estoques ou com reais problemas de abastecimento. Mas algumas cargas que poderiam estar vindo não estão chegando, por causa da defasagem.
— Nenhuma medida vai ser boa em uma situação estressante como essa. A arbitragem (diferença entre os preços internacionais e os da Petrobras) de hoje está mostra diferença de R$ 1,90 no diesel e R$ 1,30 na gasolina. Os importadores privados já disseram que não vão trazer combustível lá de fora com essa defasagem.
Segundo Dal'Aqua, a margem baixa dos postos, provocada pela alta nos preços e consequente maior atenção do consumidor por preços mais baixos está provocando fechamento de pequenos postos independentes. Os grandes, pondera, ainda conseguem ganhar no volume:
— Não podem subir o preço para poder competir, mas não conseguem lucrar com volume pequeno de vendas. O mercado está violento.