A decisão dos Estados Unidos de banir a importação de energéticos — óleo, gás e carvão — russos, associada a um esperado anúncio do Reino Unido e uma proposta da União Europeia, deve marcar um novo choque do petróleo.
Analistas já debatiam se alta ao redor de 30% em 10 dias já configuraria um novo choque. Agora, a disparada tende a se agravar, consolidando a percepção do fenômeno econômico que deixa cicatrizes históricas. Desde dezembro, quando estava em US$ 70, o barril quase dobrou de preço.
Para os EUA, o fornecimento russo não é estratégico: a importação do país de Vladimir Putin representa cerca de 8% do consumo interno. Não é tão difícil de substituir, e já existem conversas oficiais até com a Venezuela e o Irã, até o ataque à Ucrânia considerados "inimigos" na Casa Branca. O Reino Unido anunciou que vai reduzir suas compras da Rússia de forma gradual até o final do ano.
Mais delicada será a decisão da Comissão Europeia (Poder Executivo do bloco, função compartilhada com o Conselho Europeu, formado pelos chefes de Estado) de reduzir sua dependência de óleo e gás russos em dois terços da atual ainda neste ano, já proposta. Ao contrário dos EUA, a substituição desse suprimento não é simples. Cerca de 40% do abastecimento da Europa vem da Rússia.
Na véspera, quando o petróleo havia encostado em US$ 140 com especulações sobre essas medidas, o vice-primeiro ministro da Rússia, Alexander Novak, havia afirmado que o boicote ao país teria "consequências catastróficas para o mercado global" e ameaçou que o preço do barri poderia chegar a US$ 300, "se não mais".
A Rússia é o segundo maior produtor de petróleo do mundo, atrás apenas dos próprios EUA. Com a perda de clientes importantes, o país vê ainda maior redução de suas receitas. Ainda antes do anúncio, a cotação do petróleo tipo brent na bolsa de Londres havia subido para US$ 130, só com o anúncio de que o presidente Joe Biden faria um anúncio. Minutos depois da confirmação, segue em alta, e neste início da tarde é cotado a US$ 132.
Atualização: para complicar o que já estava complicado, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que vai retaliar proibindo ou limitando o comércio de matérias-primas do país até o fim deste ano. Além de petróleo e gás, a Rússia é importante fornecedora de trigo e de metais, como o níquel, cuja alta no pré-mercado interrompeu as negociações pela primeira vez em 145 anos. Bateu em US$ 101.365 por tonelada, mas recuou para US$ 80 mil antes da abertura. A máxima histórica anterior era de US$ 51,8 mil por tonelada em maio de 2007.
Os choques na história
1973: o apoio dos EUA a Israel na guerra do Yom Kippur fez os países árabes aumentarem o preço em cerca de 400%. Entre o final de 1973 e o início de 1974, as cotações nominais subiram de US$ 3 para US$ 12 Foi o que motivou o Brasil a criar o Proálcool, para reduzir a dependência do Brasil.
1979: a deposição do último xá (título de regente, soberano) do Irã, Reza Pahlevi, provocou mudanças na postura de um dos maiores produtores na época e provocou alta que fez os preços triplicarem entre 1979 e 1981, de US$ 13 para US$ 34 (em valore nominais).
1990: a Guerra do Golfo começou com a invasão do Iraque pelo Kuwait e teve intervenção dos Estados Unidos com homens e armas - diferentemente do que ocorre atualmente na Ucrânia. Fez o barril duplicar de preço em três meses, de US$ 23 para US$ 47.
2008: há controvérsias sobre a classificação de "choque", porque houve uma alta forte e rápida provocada apenas por movimentos especulativos de mercado, mas é considerada, ao menos, uma crise de petróleo, que dobrou de preço em seis meses.
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação, adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.