Com o clima político já quente em Brasília em época normalmente fria — há ensaios de duas CPIs, uma da Petrobras, pelo governo, outra do MEC, pela oposição — novo episódio eleva a temperatura a menos de cem dias da eleição.
No final de semana, vazou a informação, dada por Roberto Castello Branco em um grupo fechado de WhatsApp, de que seu celular corporativo, devolvido, teria mensagens que poderiam "incriminar" o presidente Jair Bolsonaro (leia mais abaixo).
Na manhã desta segunda-feira (27), o líder da oposição no Senado, Jean-Paul Prates, apresentou um requerimento para ter acesso aos registros das mensagens do antigo aparelho de Castello Branco. Conforme o texto, o parlamentar "requer que sejam prestadas, pelo senhor ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, informações sobre registros de mensagens trocadas em celulares corporativos e registros audiovisuais de reuniões do conselho administrativo (sic) da Petrobras (veja imagem abaixo)".
Castello Branco foi o primeiro presidente da Petrobras no governo Bolsonaro, indicado ao cargo por Paulo Guedes, ministro da Economia. Foi demitido, assim como vários sucessores, por elevar preços nas refinarias. Na última entrevista coletiva antes da saída, apareceu com uma camiseta com a inscrição "mind the gap", que repete um aviso do metrô de Londres, mas era um alerta sobre a defasagem de preços (também chamada de "gap"), que já quase levou a estatal ao buraco.
O requerimento de informação foi apresentado no plenário e precisa ser apreciado pela mesa diretora do Senado, ou seja, passa pelas mãos do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). É muito pouco provável que os registros sejam recuperados, tanto técnica quando politicamente. Mas o requerimento transformou um episódio de bastidor em fato político.
O que se sabe sobre o vazamento
Um grupo de mensagens formado por economistas inclui o ex-presidente da Petrobras Roberto Castello Branco e o ex-presidente do Banco do Brasil Rubem Novaes. No sábado (25), durante uma discussão, Novaes acusou Castello Branco de atacar o governo Bolsonaro. O ex-presidente da Petrobras negou, dizendo que, se quisesse fazer isso, não seria por falta de oportunidade, porque "toda vez que ele produz uma crise, com perdas de bilhões de dólares para seus acionistas, sou insistentemente convidado pela mídia para dar minha opinião". E aí acrescentou a frase que provocou o requerimento: "No meu celular corporativo tinha mensagens e áudios que poderiam incriminá-lo. Fiz questão de devolver intacto para a Petrobras".