Latente desde o início do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, uma disputa de poder na Petrobras voltou a provocar turbulência em Brasília. O presidente da estatal, Jean Paul Prates, pediu audiência com o presidente da República para conversar sobre os ataques sofridos por ele disparados por colegas de governo, segundo apuração do jornal Folha de S.Paulo.
O mais recente episódio voltou a expor a queda de braço entre Prates e o titular de Minas e Energia, Alexandre Silveira. O ministro admitiu em entrevista à Folha que tem conflitos com o dirigente da petroleira. Já o chefe da Casa Civil, Rui Costa, estaria sondando candidatos que poderiam vir a comandar a estatal.
Prates quer ouvir de Lula qual será seu destino. De acordo com o jornal Valor Econômico, o chefe do Executivo confidenciou a interlocutores a disposição de demitir Prates.
Nas últimas semanas, Silveira vem se aproximando da Casa Civil em assuntos que hoje preocupam Lula e aliados no que diz respeito à queda de popularidade do governo, como o preço da energia elétrica. Ele tenta emplacar uma medida provisória para antecipar pagamentos da privatização da Eletrobras e, com isso, reduzir a conta de luz. A estimativa do Ministério de Minas e Energia é que, ao antecipar os R$ 26 bilhões que entrariam no caixa da União ao longo de 30 anos, seria possível reduzir as contas de luz em 3,5%.
Lula tem ouvido de auxiliares que o duelo entre Prates e Silveira chegou ao limite e que é preciso tomar uma decisão, ou seja, a demissão de Prates ou a sua permanência. A leitura é que uma decisão deverá ocorrer em breve no Palácio do Planalto.
O presidente da República estaria avaliando transferir o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, para o comando da Petrobras, segundo o jornal O Estado de S. Paulo. O nome do ex-ministro da Casa Civil circula dentro do Palácio do Planalto e do Ministério da Fazenda.
Depois de divergências no início do mandato, Mercadante se aproximou do titular da Fazenda, Fernando Haddad, e apoiou a manutenção da meta de déficit fiscal zero. O diretor de Planejamento do BNDES, Nelson Barbosa, assumiria o banco de fomento.
Há outros nomes para o comando da Petrobras que circulam nos bastidores em Brasília, como técnicos do setor de óleo e gás e executivos, como Magda Chambriard e Ricardo Savini, da 3R.
Também são citados auxiliares da Casa Civil, como Miriam Belchior e Bruno Moretti, além do próprio ministro Rui Costa, e do secretário do Ministério da Fazenda Rafael Dubeux, indicado por Haddad ao Conselho de Administração da companhia.
Nesta quinta-feira (4), Prates ironizou notícias sobre possível mudança na companhia. Em publicação em rede social, o dirigente reproduziu uma suposta troca de mensagens de WhatsApp que dizia que ele sairia, sim, da Petrobras, mas para jantar. E estaria de volta no dia seguinte cedo, com a agenda cheia.
Prates recebeu apoio da Federação Única dos Petroleiros (FUP). Em nota, a entidade "critica o processo de espancamento público que o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, está sofrendo", mas lembra que a decisão final é do presidente da República.
O presidente da Petrobras mantém o apoio de lideranças do PT, de senadores aliados e do ministro da Fazenda, segundo a Folha. Eles consideram que a saída dele, neste momento, poderia ser traumática para a empresa e o governo, gerando crise desnecessária.
Negociações
Desde o seu primeiro mandato, em 2003, Lula optou por escolher petistas para o comando da Petrobras. Foi assim que nomeou o sergipano José Eduardo Dutra, em seu primeiro mandato, e o baiano José Sergio Gabrielli, no segundo. Prates foi senador petista pelo Rio Grande do Norte, antes de chegar à Petrobras. Sua indicação foi uma escolha do presidente, tomada ainda na transição em 2022.
Em conversas reservadas, petistas ressaltam que a escolha de eventual sucessor é de Lula, não do partido. Mas também sublinham que Prates negociou com o PT os nomes que passaram a compor a diretoria da Petrobras. Uma troca poderia afetar essas indicações. Ele também se aproximou da categoria dos petroleiros, que exercem influência política no atual governo.