Quando, ainda antes da campanha eleitoral, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva falou em "abrasileirar" os preços dos combustíveis, o mercado reagiu mal e especialistas advertiram para o risco de intervenção.
Na terça-feira (16), logo depois do comunicado da Petrobras sobre o fim da "subordinação" à Política de Paridade de Importação (PPI) , as ações da estatal fecharam com altas entre 2,49% (ordinárias, com direito a voto) e 2,24% (preferenciais, as mais negociadas) e casas de investimento fizeram recomendações de compra desses papéis.
Seria algo impensável se a leitura do mercado tivesse sido de "intervenção". Mas, afinal, por que o mercado parece ter gostado tanto de uma mudança que, pouco tempo antes, assustava? A resposta mais simples e curta é: porque foi menos ruim do que se temia - algo semelhante ao que ocorreu com o novo marco fiscal.
A coluna ouviu, com pequenas variações, muitas menções a uma famosa frase do italiano Tommaso di Lampedusa, autor de um único livro, Il Gattopardo (O Leopardo): "Algo deve mudar para que tudo continue como está".
Nessa formulação, está embutida a avaliação de que, na nova política, existem "referências de mercado" e que "apesar de todo o barulho político", a Petrobras não voltaria a subsidiar os combustíveis, como fez no passado, conforme relatório de Andre Vidal, líder de Óleo, Gás e Petroquímicos, e Helena Kelm, analista de Óleo, Gás e Materiais Básicos, ambos da XP.
A avaliação está associada a um spoiler sobre outra política da estatal, a de distribuição de dividendos, dado na mais recente coletiva da direção, de que a estratégia será semelhante à das "majors" (grandes companhias petrolíferas globais). Por isso, os analistas avaliam que "a Petrobras tem sido (e tem boas probabilidades para continuar a ser) um bom investimento de retorno total devido ao pagamento de dividendos".
Houve um ensaio de críticas à falta de transparência da nova política, que acabou não prevalecendo porque a Paridade de Preços de Importação (PPI) também tinha grande dose de opacidade: não havia periodicidade definida e a fórmula de cálculo não era conhecida - as flutuações eram acompanhadas por modelos que tentavam se aproximar da conta oficial, mas os pesos dos componentes não eram conhecidos.
Para citar apenas duas fontes com reconhecida expertise no tema, na véspera do anúncio de ajuste nos preços, o cálculo de quanto os preços domésticos estavam acima da referência internacional, no modelo PPI, era de 17% para gasolina e 12% para diesel, na Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), e de 3,47% para gasolina e 9,65% para diesel, no Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie).
Além disso, existe uma amarração de governança: a "estratégia comercial" será definida pelo Grupo Executivo de Mercado e Preço, composto por presidente, diretor de Logística, Comercialização e Mercados e diretor financeiro, e segue alinhada à Diretriz de Preços do Mercado Interno aprovada pelo conselho de administração, portanto revisada por esse colegiado a cada trimestre.
O que era a PPI
Em 2016, na gestão Temer, com a Petrobras abalada por escândalos de corrupção, elevado endividamento e um congelamento "branco" de preços, que provocaram altos prejuízos, foi adotado o cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI). O objetivo era exatmente evitar que a estatal acumulasse perdas por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina.
A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, com preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como seguro contra perdas. Mas havia um detalhe: era meio a fórmula da Coca-Cola de antigamente: seus componentes eram conhecidos, mas o método de cálculo, não, o que fazia com que houvesse grandes diferenças na tentativa de estimar qual era, afinal, a defasagem de preços em determinado período.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo