No final da manhã desta segunda-feira (4), confirmou-se o que era especulação na véspera: Adriano Pires também desistiu da indicação para a presidência da Petrobras.
A decisão foi tomada depois que o apontado pelo Palácio do Planalto para ser presidente do conselho de administração, Rodolfo Landim, havia anunciado o mesmo no final da semana. O motivo é o mesmo: conflito de interesses.
O processo de aprovação de indicados para o conselho e a diretoria da Petrobras se tornou mais rigoroso depois dos escândalos de corrupção, em que diretores confessaram desvio de recursos. Antes de submeter os nomes à assembleia-geral de acionistas, a estatal faz um processo interno de levantamento de antecedentes chamado de "background check de integridade". Foi aí que a troca de comando tal como planejada no Planalto começou a não dar certo.
Há problemas específicos de cada candidato e um comum: as relações com o empresário Carlos Suarez, dono da Termogás, que controla várias distribuidoras de gás em regiões ainda não atendidas por gasodutos, como o Nordeste e o Distrito Federal. Antes, era conhecido como um dos fundadores da OAS, o S da sigla da empreiteira. A associação não é formal, mas há muitos interesses comuns. Landim foi parceiro de Eike Batista, que criou um império de papel com suas empresas X, mas a coluna ouviu, de quem conhece o segmento, que Eike é o menor dos problemas nos antecedentes de Landim.
Fontes familiarizadas com as regras avaliam que as indicações de Landim e Pires são "siamesas", ou seja, uma não existe sem a outra. Outra pessoa que conhece detalhes desses procedimentos avalia que, diante desse processo — uma espécie de peneira —, "espanta que tenha chegado a esse ponto", no sentido de que a direção da troca de comando não tenha sido interrompida antes.
A ligação de Pires com Suarez é apenas episódica, com a contratação de sua consultoria, o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), por empresas ligadas ao empresário. Mas um integrante do segmento avalia que, nesse nível, a opinião dos consultores "depende da posição de quem o contrata" e pondera que seria melhor aprovar o lobby direto, de forma mais transparente.
Assim como a dedicação ao Flamengo foi a alegação de Landim para declinar da indicação, a de Pires é o fato de que as regras da Petrobras impedem que passe o CBIE para seu filho, por ainda manter um elo com uma empresa que tem potenciais conflitos de interesse com a estatal. Por isso, circulam informações de que o Planalto pediu a Pires que reconsidere sua posição, acenando com alguma composição em torno desse tema. A essa altura, nada é impossível, mas é pouco provável mais uma desistência da desistência. Até porque consta que o Comitê de Pessoas (nome da área de recursos humanos) da Petrobras teria um parecer pronto para rejeitar sua indicação.
As polêmicas que envolveram Landim e Pires
1. Além de presidente do Flamengo, Rodolfo Landim é sócio da Mare Investimentos, uma gestora de recursos que obteve dinheiro da fundação dos aposentados da Petrobras para aplicar em empresas que nunca entraram em operação. A operação provocou perda estimada em R$ 92 milhões para a Petros. Em 2020, o conselho da Petrobras aprovou a cobrança de ressarcimento do prejuízos.
2. É visto, ainda, como associado informal do empresário Carlos Suarez, ex-sócio da OAS e dono de empresas de distribuição de gás natural que são clientes da Petrobras. Suarez é considerado um dos potenciais beneficiados pelo formato da privatização da Eletrobras, que exige a construção de cinco termelétricas a gás em regiões onde não há gasodutos. Teriam, portanto, de ser construídos, gerando receita às empresas de Suarez.
3. Indicado à presidência-executiva da Petrobras, o economista Adriano Pires é diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), uma consultoria do segmento de energia. Como consultor, Pires foi contratado por empresas e entidades que têm potenciais conflitos de interesse com a Petrobras, como a Associação Brasileira das Distribuidoras de Gás (Abegás) e a Compass, a nova dona da Sulgás, cujo controlador é Rubens Ometto. O Ministério Público de Contas, que atua no âmbito do Tribunal de Contas da União (TCU) entrou com representação propondo que Pires não assuma a estatal antes de uma apuração sobre esses eventuais conflitos.