Houve "pressão", depois ameaça, agora o plano está em marcha: substituir o atual presidente da Petrobras, Joaquim Luna e Silva, por Rodolfo Landim, ex-parceiro de Eike Batista.
O movimento incomoda acionistas minoritários relevantes da companhia, tanto na forma — uma nova intervenção do presidente Jair Bolsonaro — quanto no conteúdo — o currículo de Landim, atual presidente do Flamengo, preocupa.
Na quinta-feira (18), dia em que o preço do petróleo voltou a subir e a bolsa de valores também operou em alta, as ações da Petrobras fecharam com baixas de quase 3%. Em circunstâncias normais, os dois movimentos, do barril e do Ibovespa, fariam os papéis da petroleira subirem. Isso não ocorreu porque vazou o formato da substituição de Silva e Luna: seu nome deve ser retirado da lista enviada pelo Ministério de Minas e Energia para eleição dos novos conselheiros da companhia (a informação foi dada pela colunista Malu Gaspar, de O Globo).
A coluna foi sondar com os representantes dos acionistas privados da Petrobras como o movimento foi recebido e pode prosperar. O diagnóstico é de que o formato segue a lei e os estatutos da companhia, mas "rasga as melhores práticas". A expressão parece apenas qualitativa, mas não é: na gestão corporativa, significa um conjunto de regras que dão às empresas boa avaliação no mercado. É a explicação para o movimento da véspera, suavizado nesta sexta-feira (18): as ações reagem, mas timidamente, com altas ao redor de 1%, tanto nas ordinárias quanto nas preferenciais.
O nome de Landim divide opiniões. Há acionistas que valorizam o perfil "virador" do executivo, mas também há sérias restrições pelo fato de o virtual indicado responder a processos, inclusive um no qual é responsabilizado por perdas para a Petros, o fundo de aposentadoria da Petrobras. Entre as críticas que a coluna ouviu, também está a de que o nome é rejeitado porque "nasceu de estupro" e por ser "espertalhão", por ter enriquecido com a aventura de Eike, quanto tantos perderam no mercado financeiro. Mas mesmo quem faz tantas objeções reconhece que "parte do mercado o adora".
O roteiro traçado começaria com a nova lista — a anterior havia sido enviada depois que atual o presidente do conselho, almirante Eduardo Ferreira, pediu para sair por "motivos particulares". O passo seguinte seria a aprovação na assembleia-geral marcada para 13 de abril, mas que pode ter de ser adiada para acomodar a mudança na lista. Também seria preciso tirar o nome de Landim como indicado à presidência do conselho: o estatuto impede acúmulo de cargos.
Se tudo der certo, para cumprir a missão de Bolsonaro — mudar a atual política de preços da Petrobras —, Landim não pode dar "canetaço": terá de convencer o conselho a aprovar mudanças nas regras de governança da Petrobras. Pelo que a coluna ouviu de representantes de acionistas, não será uma missão assim tão fácil de cumprir. Basta lembrar que foi para isso que o presidente anterior, Roberto Castello Branco, foi derrubado, e um general de confiança do Planalto foi indicado.
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.