Em meio ao pânico disseminado no mercado financeiro da manhã desta segunda-feira (22), provocado pela intervenção do presidente Jair Bolsonaro na Petrobras, uma carta do fundo de investimentos Aberdeen é um dos temas que mais circulam entre operadores de bolsa, câmbio e juros.
Em carta ao conselho de administração da Petrobras, o fundo adverte para riscos que vão além da perda de valor da companhia.
O Aberdeen, que gerencia recursos de longo prazo (não é um especulador, portanto), afirma que “o retorno ao passado seria um revés na trajetória de reconstrução da credibilidade da companhia e melhora de governança observada nos últimos anos, colocando em risco não apenas a estratégia atual da companhia mas também todos os esforços do país em atrair investimentos privados para o desenvolvimento da indústria de óleo e gás e sua cadeia de valor”.
Pode parecer pouco para um leigo, mas o fundo tem 0,5% do capital da Petrobras, o equivalente a 63,5 milhões de papéis preferenciais da companhia, e US$ 4 bilhões investidos no Brasil em ações e outros ativos.
A carta insiste, para que não reste dúvida: a administração precisa garantir que “a paridade dos preços de importação prevaleça na política de preços de combustíveis”.
Se essa condição não for assegurada, reforça a carta, haverá “impactos negativos não apenas para a Petrobras como para ativos brasileiros de maneira mais ampla”. É o que se vê nesta manhã de segunda-feira, em que as ações da petrolífera despencam quase 20%, arrastando outras estatais, como Eletrobras e Banco do Brasil. A bolsa tomba cerca de 5% e o dólar avança mais de 2,5%.
Nas mensagens de operadores, habitualmente otimistas, a despeito de eventuais declarações desastradas de Bolsonaro, o tom mudou. Em uma dessas comunicações, circula a seguinte frase: “a queda de um presidente começa quando ele perde o medo do mercado”. Em grupos mais sofisticados, constata-se a “destruição total de valor” promovida pelo pé na porta presidencial. Até agora, a perda de valor de mercado da Petrobras já chega aos R$ 100 bilhões que haviam sido previstos na véspera do dia de pânico na bolsa.