O reajuste de 18,8% na gasolina, 24,9% no diesel e 16% no gás fez o presidente Jair Bolsonaro reforçar a pressão para saída do atual presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, a ponto de despertar resistência militar, mas esse processo começou bem antes dessa decisão histórica.
Em 5 de março, a estatal comunicou ter recebido do Ministérios de Minas e Energia as indicações para o conselho de administração vindas do acionista controlador, ou seja, da União. O nome do candidato a presidente do conselho chamou a atenção: Rodolfo Landim.
O atual ocupante do cargo, o único acima do general Silva e Luna, é o o almirante Eduardo Bacelar Leal Ferreira, que está saindo por "motivos particulares". Apesar de ser mais conhecido, atualmente, como presidente do Flamengo, Landim tem vasta experiência no setor petroleiro. A mais famosa (ou infame, dependendo do ponto de vista) foi sua atuação no "império X" de Eike Batista.
Landim presidiu a MMX, a OGX e a OSX (em ordem cronológica), todas empresas do conglomerado de Eike que, anos depois, caiu como um castelo de cartas. Fez parte do grupo de executivos que ganhou milhões com a remuneração por ações das empresas que chegaram a valer bilhões para depois virarem pó. Mas essa não é a conexão que mais levantou sobrancelhas no mercado com a indicação de Landim para a presidência do conselho da Petrobras.
No currículo dos candidatos ao conselho distribuído pela estatal, não consta a informação de que Landim é sócio da Mare Investimentos (leia clicando aqui). Qual o problema? A Mare é uma das duas gestoras de recursos de um fundo de investimento que causou prejuízo à fundação dos aposentados da Petrobras. Captou recursos que seriam aplicados em três empresas que nunca entraram em operação, provocando perda estimada em R$ 92 milhões para a Petros, já fragilizada por maus investimentos.
Em 2020, o conselho da Petrobras abriu caminho para uma medida judicial contra a Mare, cobrando ressarcimento do prejuízos. Ainda que a decisão já tenha sido tomada, o conflito de interesses está desenhado: como votaria Landim na principal cadeira da estatal? Contra a empresa da qual é sócio ou contra os interesses do fundo de pensão dos funcionários, que os cofres semipúblicos ajudam a sustentar?
Tem polêmica demais? Segundo a colunista Malu Gaspar, de O Globo, autora do livro A Organização, que detalha a influência da Odebrecht na república brasileira, Landim é muito próximo ao empresário Carlos Suarez, ex-sócio da OAS e dono de empresas de distribuição de gás natural, clientes da Petrobras. Conforme o relato da jornalista (clique aqui para ler), o Ministério Público da Suíça, que havia bloqueado as contas de Suarez por seu envolvimento com corrupção na Petrobras, chegou a suspender a medida mas a retomou porque o ex-sócio da OAS recebeu dinheiro de uma conta, também mantida em banco suíço, de Landim.
No roteiro de Bolsonaro, Landim seria o candidato a desmontar a política de preços que atrela o preço doméstico dos combustíveis à cotação do petróleo brent (leia mais abaixo). Foi o que já tentou fazer com a substituição de Roberto Castello Branco por Luna e Silva. O general tem dito que não vai pedir demissão, como fez o antecessor a pedido do ministro da Economia, Paulo Guedes. E avisado que a política de preços está prevista em estatuto, que não pode ser desmontado por qualquer gestor. Mas pode ser mudada pelo conselho.
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI), adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, que tem preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.