A 10 dias da data decisiva para a troca de comando da Petrobras, houve uma reviravolta: o indicado à presidência do conselho de administração, Rodolfo Landim, desistiu de concorrer ao cargo.
O comunicado foi feito em nota oficial publicada no site do Flamengo, do qual Landim também é presidente, na madrugada deste domingo (3).
A justificativa é de que não poderia acumular os dois cargos (leia o comunicado do executivo clicando aqui ou abaixo). Como essa é uma situação caracterizada há quase um mês — a indicação do executivo foi enviada pelo Ministério de Minas e Energia à Petrobras em 5 de março —, foi considerada apenas uma saída diplomática. A hipótese mais provável é de que Landim tenha sido convencido de que o conflito de interesses era insustentável (leia mais abaixo).
A assembleia-geral de acionistas que vai analisar as indicações para o conselho de administração do governo (sete das 11 cadeiras), dos acionistas minoritários (três) e dos empregados (uma) está marcada para o próximo dia 13. Há dúvidas se a data será mantida. Para não adiar, o Ministério de Minas e Energia terá de acelerar a busca por uma alternativa, enviar nova indicação à Petrobras, que por sua vez precisa informá-la ao mercado.
Conforme informações do site Poder360 (veja clicando aqui), Adriano Pires, indicado à presidência-executiva da Petrobras, também poderia recusar. O motivo seria a necessidade de passar sua empresa, Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), para o filho, Pedro Rodrigues Pires, que já é sócio-diretor.
No entanto, pessoas que têm informações sobre o processo de governança da empresa avaliam que Pires enfrenta o mesmo problema de Landim: conflito de interesses, o que significa que ambos não passariam no chamado "background check", uma espécie de análise de antecedentes que a estatal faz de forma rigorosa. Pires havia chamado atenção quando, como definiu à coluna, assumiu a posição de "ponto fora da curva" na defesa das regras de privatização da Eletrobras. O pacote foi criticado por nove entre 10 economistas favoráveis à saída do Estado da economia.
Para as finalidades do governo Bolsonaro, a desistência de Landim é mais complexa do que a de Pires, caso se confirme. A presidência-executiva é obrigada a seguir as regras atuais, que incluem a política de preços. O conselho é a instância responsável por aprovar eventuais modificações propostas.
As polêmicas que envolveram Landim
1. No currículo dos candidatos ao conselho distribuído pela estatal, não havia constado a informação de que Landim é sócio da Mare Investimentos (leia o resumo distribuído clicando aqui). A gestora captou recursos da fundação dos aposentados da Petrobras que seriam aplicados em três empresas que nunca entraram em operação, provocando perda estimada em R$ 92 milhões para a Petros, já fragilizada por maus investimentos. Em 2020, o conselho da Petrobras cobrou ressarcimento do prejuízos.
2. Landim é visto como "sócio oculto" do empresário Carlos Suarez, ex-sócio da OAS e dono de empresas de distribuição de gás natural que são clientes da Petrobras. Suarez é considerado um dos potenciais beneficiados pelo formato peculiar da privatização da Eletrobras, que exige a construção de cinco termelétricas a gás em regiões que não têm suprimento e onde as empresas do ex-OAS atua.
A nota oficial de Landim
"Caro Sócio e torcedor rubro-negro
Como já foi amplamente divulgado pela imprensa, tive a honra de ter meu nome indicado para a presidência do Conselho de Administração da Petrobras.
Depois de mais de 26 anos trabalhando na empresa, tendo exercido vários cargos na sua alta administração, o convite feito seria um retorno a um local que por muito tempo fez parte de minha vida.
Apesar do tamanho e da importância da Petrobras para o nosso país, e da enorme honra para mim em exercer este cargo, gostaria de informá-lo que resolvi abrir mão desta indicação, concentrando todo meu tempo e dedicação para o ainda maior fortalecimento do nosso Flamengo.
Encaminhei ao Exmo Ministro de Minas e Energia, Sr. Bento Albuquerque, um documento com esta posição, deixando claro meu agradecimento pelo convite e relatando minha preocupação em não conseguir, dada a dedicação que as duas instituições demandariam nesse momento, exercer ambas as funções com a excelência por mim desejada e à altura que a Petrobras e o Flamengo merecem.
Em relação ao Flamengo, os últimos acontecimentos me demonstraram a necessidade de termos todos nós o compromisso de um grau ainda maior de dedicação e foco ao Clube.
Como sempre falei, ao ter sido reeleito pelos sócios para um mandato de mais três anos, exercer bem o cargo de presidente do Flamengo é minha total prioridade.
Saudações rubro-negras
Rodolfo Landim
Presidente do Clube de Regatas do Flamengo"
Quem é Rodolfo Landim
O executivo fez carreira na Petrobras, onde chegou a presidir a BR Distribuidora, hoje privatizada, e foi contratado por Eike Batista para presidir três empresas do hoje quebrado "império X", que chegou a ser formado por quase uma dezena de empresas. Landim foi CEO da MMX, depois passou para a OGX e terminou sua trajetória literalmente meteórica na OSX. Uma das características do conglomerado era contratar executivos e remunerá-los com opções de ações. Como nos primeiros anos as empresas X foram supervalorizadas no mercado financeiro, esse ganho criou um grupo de multimilionários, entre os quais Landim.