Está em curso uma manobra do governo Bolsonaro para colocar no comando da Petrobras o executivo Rodolfo Landim, presidente do Flamengo e ex-parceiro de Eike Batista em três empresas do ex-império X.
Mas como o presidente é palmeirense, como o nome de Landim, que tem origem profissional na Petrobras, foi parar nas prioridades presidenciais?
Pelo lado esportivo, Landim é mais próximo do vice-presidente Hamilton Mourão, flamenguista, do que de Bolsonaro. O mercado atribui a ponte com Bolsonaro — adivinhem — ao Centrão, mais especificamente o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Ainda em novembro do ano passado, Nogueira recebeu a "agradável visita" de Landim em seu gabinete no Planalto, como publicou em rede social.
Não por acaso, na semana em que começou a ser traçado o plano para transformar a indicação de Landim da presidência do conselho para a presidência-executiva, Lira fez um dos mais contundentes ataques ao atual comando da Petrobras. Falou me "insensibilidade da Petrobras com os brasileiros, os verdadeiros donos da companhia" e considerou o mega-aumento "um tapa na cara de um país que luta para voltar a crescer" em publicações em redes sociais. Mencionou, ainda, que "até os governos mais ortodoxos estão avaliando como mitigar os impactos da pressão nos custos em todos os mercados".
A menção à ortodoxia não é gratuita: os líderes do centrão teriam vendido a Bolsonaro como um nome "livre de dogmas" - referência à crença monolítica no mercado de que a estatal tem de seguir as flutuações dos preços internacionais. Antes de discutir na Justiça sua condição de sócio de Eike Batista — perdeu —, Landim foi presidente da BR Distribuidora, hoje privatizada, de 2003 a 2006, durante o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Quem é Rodolfo Landim
O executivo fez carreira na Petrobras e foi contratado por Eike Batista para presidir três empresas do hoje quebrado "império X", que chegou a ser formado por quase uma dezena de empresas. Landim foi CEO da MMX, depois passou para a OGX e terminou sua trajetória literalmente meteórica na OSX. Uma das características do conglomerado era contratar executivos e remunerá-los com opções de ações. Como nos primeiros anos as empresas X foram supervalorizadas no mercado financeiro, esse ganho criou um grupo de multimilionários, entre os quais Landim.
Atualmente, além de presidente do Flamengo, Landim é sócio da Mare Investimentos, informação que não constou de sua indicação à presidência do conselho da Petrobras, já formalizada (leia clicando aqui). A Mare é uma das duas gestoras de recursos de um fundo de investimento que causou prejuízo à fundação dos aposentados da Petrobras. Captou recursos que seriam aplicados em três empresas que nunca entraram em operação, provocando perda estimada em R$ 92 milhões para a Petros, já fragilizada por maus investimentos. Em 2020, o conselho da Petrobras abriu caminho para uma medida judicial contra a Mare, cobrando ressarcimento do prejuízos.
Landim tem relações com o empresário Carlos Suarez, ex-sócio da OAS e dono de empresas de distribuição de gás natural, clientes da Petrobras. No segmento de petróleo, há entendimento de que Landim é sócio de Suarez. Conforme a jornalista de O Globo Malu Gaspar (clique aqui para ler), o Ministério Público da Suíça voltou a bloquear contas de Suarez na Suíça depois que receberam depósitos de Landim, feitos a partir de uma conta no país. Haviam sido interditadas pelos escândalos de corrupção na Petrobras, porque a OAS foi uma das empresas investigadas e punidas no chamado Petrolão.