Foi rápido: em duas semanas, a Petrobras anunciou e executou sua saída definitiva da rede de postos BR, que corresponde a quase um terço da rede de distribuição no Brasil.
Em operação concluída na manhã desta quinta-feira (1º) na bolsa de valores, os últimos 37,5% das ações da BR que ainda pertenciam à Petrobras foram vendidos, movimentando R$ 11,36 bilhões. Isso significa que uma mudança histórica se completou no Brasil: a saída do Estado da atividade de distribuição de combustíveis.
A partir de hoje, a rede BR, que tem cerca de oito mil postos em todo o Brasil, passa a ser uma "corporation", ou seja, uma empresa sem controlador definido, com ações pulverizadas entre vários investidores do mercado de capitais. Com isso, foram renovadas as dúvidas sobre uma provável mudança de marca, que surgiram ainda em 2019, quando a Petrobras saiu do controle da rede.
A saída definitiva da estatal da distribuição faz parte da estratégia de desinvestimento da companhia, que tem duplo objetivo: reduzir o endividamento, que chegou ao nível mais alto do setor no mundo, e garantir investimentos para a área prioritária de sua atividade, a exploração e produção de petróleo. O segmento de revenda de combustíveis vai passar por uma grande mudança com a saída da Petrobras da BR e a chegada de outra rede, privada, ao refino, com a compra da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) pelo Grupo Ultra, dono dos postos Ipiranga.
— São dois movimentos que vejo como salutares para a competição. Mas, de fato, é um modelo novo que vem vindo aí, que alguns veem como oportunidade e, outros como ameaça. O mercado de distribuição (entre a refinaria e as revendas) ainda é muito concentrada, e isso pode ajudar para aumentar a competição — avalia João Carlos Dal'Aqua, presidente do Sulpetro, o sindicato estadual dos postos de combustíveis.
Entenda a venda de ações da BR
A venda da BR faz parte do processo de transformação do mercado de derivados de petróleo no Brasil, que passa também pela privatização de seis refinarias, entre as quais a Alberto Pasqualini (Refap), de Canoas, que deve ser concluída até o final do mês.
Até 2017, a estatal era a única dona da rede de postos. Naquele ano, vendeu 29% das ações. Dois anos depois, em 2019, abriu mão do controle. Agora , abandona definitivamente esse ramo de atividade, como No entanto, resultado de compromisso assumido pela Petrobras com o Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade) e Agência Nacional do Petróleo (ANP).
O presidente da BR é Wilson Ferreira Jr., que saiu da Eletrobras quando o governo Bolsonaro ainda hesitava em vender o controle da companhia de energia elétrica.
A BR não informa quais são seus maiores acionistas privados, mas conforme informações de mercado, predominam as fatias de fundos e gestores de investimento internacionais como BlackRock e Vanguard, nacionais, como Verde e Kapitalo, e ainda bancos, como Itaú e Opportunity.