Correção: das 12h até as 14h30min, constava US$ 7,4 bilhões no total de ativos administrados pela BlackRock. A nota está atualizada com o valor correto.
Publicada em janeiro, a carta de Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, orientando seus clientes a não investir e até mesmo sair de empresas não sustentáveis, ajudou a compor a inflexão da relação entre negócios e cuidado ambiental que ficou evidente durante o Fórum Econômico Mundial de Davos deste ano. Nesta sexta-feira (6), o diretor nacional da empresa que administra recursos de US$ 7,4 trilhões, Carlos Takahashi, disse à coluna que a BlackRock vai investir em infraestrutura de energia no Brasil. O projeto já começou e, claro, privilegia geração hídrica, eólica e solar. A coluna conversou com Takahashi depois de uma palestra do executivo em evento promovido pelo capítulo do Rio Grande do Sul do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Segundo o executivo, outros dois gigantes globais se somam à BlackRock na cobrança ambiental: Goldman Sachs e Franklin Templeton.
O viés ambiental nos negócios é uma tendência passageira ou uma imposição?
Definitivamente não é modismo. É uma necessidade. Os investidores estão acordando para isso. Essa mudança é geracional. A mudança demográfica que estamos experimentando, com participação maior da mulher nos processo de decisão, a maior consciência das gerações anteriores faz com que os investidores acordem para isso. Quando os investidores começam a trazer essa preocupação, isso traz uma capacidade grande de mover todo o ecossistema ligado aos investimentos e, consequentemente, à economia. Até porque hoje a gente já vê que descuidos com aspectos ambientais, como o da Vale, causam impacto nos preços dos ativos. Essa precificação vai estar cada vez mais presente: o risco e o retorno, considerados os aspectos ambientais e sociais.
A BlackRock está saindo de investimentos que usem carvão como fonte de energia?
Há duas decisões. No caso das empresas que atuam na mineração, a BlackRock vai desinvestir (vender sua parte no negócio). Já está realizando esse processo. Para as empresas que usam energia que têm o carvão como fonte, vai solicitar informações sobre como vai fazer o processo de transição para fontes limpas. Temos outro grande desafio. Um dos produtos da empresa são os ETFs (ativos formados por índices de ações ou renda fixa). Um exemplo é o Ibovespa, montado pela bolsa do Brasil, mas com ETF negociado pela BlackRock. Um dos critérios para ir para o índice é ser uma grande empresa, com alta liquidez. O que estamos promovendo é uma discussão com os promotores do índice para que eles incluam critérios ambientais e sociais na composição e também incluindo no nosso portfólio índices que já contemplam essas questões.
A BlackRock vai investir em energia no Brasil?
Temos olhado investimentos em infraestrutura em energia. É uma ação ainda bastante inicial. É focado em geração hídrica, eólica e solar. Já está começando, é uma estratégia de longo prazo. Temos um time no Exterior que faz esse trabalho. Eles têm olhado com bastante atenção as oportunidades aqui. A BlackRock já tem participação importante no negócios de infraestrutura no México, tem negócios na Colômbia, e a ideia é trazer para o Brasil essa experiência nesses países.
A condução da política ambiental no Brasil fez a BlackRock pensar duas vezes?
Não. É uma gestora que busca o melhor resultado para seus clientes. O que busca é deixar claro quais são os seus propósitos, os ativos que fazem sentido para seu portfólio. Claro que faz uma análise macroeconômica, então vemos oportunidades interessantes de investimento no Brasil.