A coluna não gosta de se repetir, nem de subir a plaquinha "eu já sabia", porque seriam atitudes sem consequência. Mas depois que o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse em Davos – no ano em que o Fórum Econômico Mundial é mais verde – que "as pessoas destroem o meio ambiente porque precisam comer", é preciso constatar que falta agenda ambiental ao Brasil. No mundo dos investimentos de 2020, isso significa uma falha.
Neste início de 2020, depois das queimadas do ano anterior na Amazônia, em Portugal e na Austrália – que atravessaram o calendário –, os sinais de que o mundo do dinheiro aderiu à causa ambiental ficaram ainda mais evidentes. Vejamos por partes:
1. Na virada do ano, a TrendWatching publicou sua previsão de que, neste ano, o consumo ecológico vai deixar de ser motivo de diferenciação para se tornar motivo de vexame para os que não aderirem.
2. A maior gestora de recursos do mundo, a BlackRock, que gerencia quase US$ 7 trilhões em ativos, uniu-se a um programa para reduzir emissões e aumentar a transparência em investimentos relacionados ao clima e está orientando seus clientes a não investirem e até mesmo saírem de negócios não sustentáveis.
3. O relatório de riscos globais do fórum, feito anualmente por Marsh & McLennan e Zurich, ambas ligadas ao mercado de seguros (veja íntegra aqui, em inglês), apontou, pela primeira vez em 10 anos, consequências da mudança climática como as cinco maiores preocupações dos líderes em termos de probabilidade. As cinco são clima extremo (tornados, furações, inundações, granizo), fracasso na ação climática (para sustar o efeito estufa), desastres naturais, perda de biodiversidade e desastres ambientais provocados pelo homem (Mariana e Brumadinho estão certamente neste radar). Todos esses pontos vêm antes do, até agora, máximo risco global, que são as armas de destruição em massa.
4. Nesta semana, o Bank of International Settlements (BIS, chamado de 'banco central dos bancos centrais) advertiu para o risco de "cisnes verdes". Os analistas adaptaram o conceito dos "cisnes negros" de Nassim Taleb – grandes impactos não previstos – para se referir aos problemas climáticos, sobre os quais há alguma certeza de que a mudança climática se concretizará. Segundo o BIS, seria um risco para a humanidade maior do que crises financeiras, com potencial de desencadear reações em cadeia ainda mais complexas e imprevisíveis.
Ou seja, não é a voz da adolescente sueca Greta Thunberg que o governo brasileiro precisa ouvir. É de consultorias, fundos de investimento, seguradoras e conglomerados financeiros.