O alcance da operação Tempus Veritatis (Hora da Verdade em latim) gera percepções opostas: pode ser considerada surpreendente, pelo número e pelo currículo dos envolvidos e, ao mesmo tempo, é um desdobramento óbvio das investigações que avançavam.
No país que já teve um ex-presidente preso por 580 dias, as medidas coercitivas contra outro ex-presidente, Jair Bolsonaro, não deveriam gerar muito estranhamento, porque são até mais cautelosas. E, paradoxalmente, causam. Bolsonaro não pode entrar em contato com os demais investigados e terá de entregar seu passaporte, para evitar uma saída do Brasil. Mas não foi preso - temor que chegou a manifestar.
No caso de Bolsonaro, a justificativa específica para a medida, conforme decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes é de que o ex-presidente teria pedido alterações na chamada "minuta do golpe", documento encontrado na casa de seu ex-ministro da Justiça, Anderson Torres. As conexões entre causa e consequência ainda são nebulosas, mas o que se sabe é que a base da operação é a delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid.
Pouco depois que a informação veio à tona, a jornalista conversou com um agente do mercado de capitais. O que mais o impressionou foi o fato de a operação ter origem nas declarações de Cid, que em sua primeira avaliação emprestaria seriedade a esses desdobramento. Com o que se sabia naquele momento, fez um primeiro diagnóstico: no curto prazo, causa volatilidade, no longo terá menos impacto.
A data da operação chama atenção: é realizada um ano e um mês depois do 8 de Janeiro e na quinta-feira pré-carnavalesca, quando os assuntos políticos tendem a ser abafados pelos sons dos blocos, das escolas e dos trios elétricos no país. Nesse cenário cheio de contradições, ainda há a prisão em flagrante - em tese, não planejada - por porte ilegal de arma, do presidente de um dos maiores partidos do Brasil, Valdemar Costa Neto, do PL.
Para esclarecer paradoxos e desfazer incertezas, a Polícia Federal precisa responder a várias interrogações abertas. Mas é necessário responsabilizar quem atentou contra a democracia para que episódios como o 8 de Janeiro não se repitam. Depende disso a sobrevivência do Brasil como um mercado livre com instituições responsáveis, atuando sob o império da lei. O contrário disso é o vale-tudo em que quem pode mais define as regras.