Nesta quarta-feira (20), as ações da Braskem sofrem forte queda, de quase 5% até o meio da tarde, diante do temor de que acionistas minoritários não se beneficiem da mudança no controle, hoje da Novonor (ex-Odebrecht).
Nos últimos dias, ganhou corpo hipótese de que Petrobras e a Empresa de Petróleo de Abu Dhabi (Adnoc), compartilhem fatias iguais na petroquímica e deixem a Novonor com participação simbólica. Seria um desfecho de estatização, só que com duas empresas públicas.
Além disso, o senador Renan Calheiros já reuniu 45 assinaturas para criar uma CPI para investigar a atuação da Braskem em Maceió (leia mais abaixo). Esse movimento tem leituras opostas: existem analistas que veem como tentativa de pressionar a Novonor para vender a Braskem de uma vez, outros apontam risco de maior atraso em decorrência das incertezas que uma CPI pode provocar.
Nesse eventual rearranjo, é irônico que a Adnoc tenha embarcado nas negociações na carona da gestora americana Apollo Global, que agora estaria deixando a disputa. Juntas, as duas companhias haviam feito uma oferta (confira as demais abaixo) que previa a saída da Petrobras.
Em entrevista à coluna, o presidente da estatal, Jean Paul Prates, havia afirmado que "é impossível uma empresa de petróleo pensar em transição energética sem passar pela petroquímica", em clara sinalização de que a Petrobras não aceitaria vender a fatia que tem na Braskem.
A posição das as atuais sócias
Notas publicadas nesta semana, depois da especulação sobre a solução Petrobras/Adnoc
A Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras (...) reafirma que está realizando due diligence na Braskem, para eventual exercício de tag along ou direito de preferência, na hipótese de alienação das ações detidas pela Novonor S.A. (Novonor) na companhia (...) Vale destacar que não houve qualquer decisão da Diretoria Executiva ou do Conselho de Administração em relação ao tema."
“(...) A Novonor informa que, desde nossas últimas manifestações, até o presente momento, não houve qualquer evolução material ou vinculante nas discussões que vem mantendo com as eventuais partes interessadas na aquisição de sua participação indireta na Braskem S.A.".
O imbróglio da Braskem
A Braskem está à venda desde 2018. A companhia é controlada pela Novonor, novo nome de Odebrecht, que entrou em crise depois da operação Lava-Jato. A empresa privada tem 38,3% do capital total da Braskem e 50,1% das ações ordinárias, enquanto a Petrobras tem 36,1% do e 47% das ordinárias. O primeiro ensaio de venda foi uma tentativa de evitar a recuperação judicial da então Odebrecht. Mas fracassou, por falta de transparência na avaliação dos passivos provocado por danos relacionados à mineração de sal-gema em Maceió (AL). Não por acaso, o pedido de RJ veio 15 dias depois.
Desde então, a Braskem fez sucessivas reavaliações sobre suas despesas com indenizações a moradores, à prefeitura da capital alagoana e ao governo do Estado, mas a coluna ouviu de uma parte interessada na compra que ainda não há confiança sobre o valor estimado, hoje cerca de R$ 13 bilhões. Por isso, todas as ofertas de compra estão condicionadas a verificações adicionais, as chamadas due diligences.
Os candidatos "oficiais"
Apollo e Adnoc: fizeram uma proposta não vinculante de compra da Braskem estimada no mercado em R$ 27 bilhões. A gestora de investimentos americana havia se aliado à empresa de petróleo de Abu Dhabi para ter um operador técnico confiável. Agora, até onde se sabe, a Adnoc segue sozinha, e a Apollo ser retirou das negociações.
Unipar: segunda maior produtora de PVC do Brasil, atrás da Braskem, ofereceu um valor estimado em R$ 10 bilhões só pela fatia da Novonor. O grupo tem 77 anos, unidade no polo da Braskem do ABC paulista e presença na origem do polo de Triunfo.
J&F: é a holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista que, além da JBS, controla Eldorado Celulose e Banco Original, entre outros negócios. Fez negociações - até onde se sabe, comandadas pessoalmente por Joesley (com a gestão anterior), assessorado por um ex-presidente da Braskem, Carlos Fadigas.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo