É uma pena que o Brics - o bloco formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul - não tenha uma cláusula democrática como a que existe no Mercosul. Uma década atrás, entre 2012 e 2013, o Paraguai ficou fora do grupo latino, depois do impeachment - considerado ilegítimo - do então presidente Fernando Lugo.
Além de já ter China e Rússia sem garantias institucionais o Brics+ - ou Brics Plus, como está sendo chamada a versão ampliada do grupo - incorporou Arábia Saudita, Argentina, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã. Metade das novas adesões sofre de déficit democrático.
Um dos acréscimos, o Emirados Árabes Unidos, é sócio do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB na sigla em inglês, mais conhecido como banco dos Brics) desde 2021. O país inclui dois emirados (há outros cinco) muito conhecidos e endinheirados: Dubai e Abu Dhabi. E também uma autocracia.
No departamento "muito dinheiro e pouca democracia", também entra a Arábia Saudita, que tem como primeiro-ministro o príncipe Mohamed bin Salman, suspeito de ser o mandante do assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi. O Irã completa o grupo das ditaduras, no caso mais evidente.
De 11 integrantes, portanto, o Brics+ tem cinco nessa situação e seis que mantêm os compromissos básicos da participação política da sociedade. O bloco não tem cláusulas comerciais, mas seu papel no desenvolvimento econômico dos integrantes é óbvio, já que a principal tradução de sua existência é exatamente um banco capaz de financiar projetos que estimulam o crescimento, especialmente de infraestrutura - e portanto, melhoram o cacife do governante de turno.
A entrada da Argentina no bloco foi uma clara exigência brasileira para aceitar o desejo expansionista da China - no Brics, na "nova rota da seda" ou em qualquer uma das iniciativas do gigante asiático. O país precisava de financiamento externo, mas só os integrantes do bloco podem receber recursos do NDB. Qual a saída? Aderir ao grupo.
Ao menos, garante uma maioria ainda democrática - apesar das inquietações dos últimos dias. Mas começa a pesar sobre o Brics o carimbo do déficit democrático, que não contribui para fazer bons negócios nem para o bem-estar de suas populações, que em tese é o propósito de sua existência.