Havia sinais de problemas desde o final de semana, mas na noite de terça-feira (22) os saques a supermercados e lojas se intensificaram na área metropolitana de Buenos Aires - chamada por lá de "conurbano". Só nos episódios mais recentes, quase cem pessoas foram detidas.
E enquanto a falta de segurança inquieta os cidadãos - que têm na memória os traumáticos distúrbios de 2001, que causaram dezenas de mortes e derrubaram o então presidente Fernando de la Rúa, provocando um rodízio de cinco interinos na Casa Rosada -, políticos trocam acusações sobre a responsabilidade da violência.
O governo acusa a oposição de ter "incitado" os episódios de violência com objetivo de desestabilizar o atual presidente Alberto Fernández, enquanto seus aliados apontam descontrole no comando do país e da área da capital federal.
Um dos elementos de desestabilização é a própria campanha eleitoral, acirrada desde as prévias que definiram os candidatos à Presidência, com vantagem para Javier Milei, o anarcocapitalista - conforme ele mesmo se caracteriza - que canalizou a indignação dos argentinos com a decadência do país para ganhar votos. Uma das palavras mais pronunciadas pelo candidato nas últimas semanas é "casta", para se referir aos políticos - todos os que já passaram pelo poder recentemente, ou seja, tanto o atual governo quanto a oposição.
Acionar a "bronca" (palavra usada na Argentina para manifestar indignação) com fins eleitorais pode ser conveniente para candidatos que nada tem a perder, mas pregar o "que se explote todo" (que todo se exploda) em um país com histórico de confrontos, com afundamento no poder de compra e falta de perspectivas pode desembocar no imponderável.