A cúpula do Brics anunciou nesta quinta-feira (24) a ampliação do bloco. O grupo decidiu convidar formalmente seis países: Argentina, Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Os novos países passarão a integrar o bloco a partir de 1º de janeiro de 2024, informou o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa.
— A adesão entrará em vigor a partir de 1º de janeiro de 2024 — declarou Ramaphosa em uma entrevista coletiva ao lado dos representantes dos cinco países que integram atualmente o bloco.
— Com esta cúpula, o Brics inicia um novo capítulo — acrescentou.
O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, celebrou a decisão e afirmou que a entrada no bloco representa uma "momento forte" para o país africano.
Um conselheiro do presidente iraniano Ibrahim Raissi, Mohammad Jamshidi, destacou que a adesão do Irã é um "sucesso estratégico para a política externa da República Islâmica".
Quase 40 países solicitaram a adesão ou demonstraram interesse de entrar para o bloco criado em 2009, que representa quase 25% do PIB e 42% da população mundial.
— É muito importante a Argentina estar nos Brics. O Brasil não pode fazer política de desenvolvimento industrial sem lembrar que a Argentina tem que crescer junto — disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em transmissão ao vivo, na terça-feira (22).
A ampliação dos Brics foi um dos temas da reunião de cúpula de três dias na África do Sul e provocou divisões entre os atuais membros sobre o ritmo e os critérios para a entrada de novas nações.
Mas o bloco — que toma decisões por consenso — estabeleceu "princípios, diretrizes, critérios e procedimentos para o processo de expansão dos Brics", afirmou Ramaphosa.
— Agora, seremos 36% do PIB global e continuaremos abertos a novos candidatos — completou Lula.
Novos integrantes
Arábia Saudita
Argentina
Egito
Emirados Árabes Unidos
Etiópia
Irã
Negociações
A ampliação do grupo foi um tema prioritário na reunião de cúpula, a 15ª celebrada pelo bloco, que começou na terça-feira. A China, a maior economia do grupo, que representa quase 70% do PIB do bloco, era favorável a uma expansão. A Índia, outro motor econômico da aliança, que desconfia das ambições de Pequim - um rival regional -, tinha dúvidas.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, lembrou que era necessário um "consenso" sobre as modalidades da ampliação, pois qualquer decisão dentro do Brics exige unanimidade.
Analistas afirmaram que o Brasil também temia que uma expansão "diluísse" sua influência mundial e dentro do bloco.
O Brics reafirmou a posição de "não alinhamento" durante a reunião, em um contexto de divisões com o conflito na Ucrânia.
O governo dos Estados Unidos afirmou que não vê o Brics como futuros "rivais geopolíticos" e destacou que deseja manter "relações sólidas" com Brasil, Índia e África do Sul.
Possível evolução geopolítica
A chegada de novos países pode alterar o equilíbrio geopolítico do bloco, segundo analistas.
Apesar da disparidade geográfica de seus membros, eles convergem na reivindicação de um equilíbrio político e econômico mundial, mais inclusivo, particularmente em relação aos Estados Unidos e à União Europeia.
Entre os novos integrantes, há países historicamente não alinhados, como Etiópia, mas também outros com uma relação mais hostil com os Estados Unidos, como Irã.
John Stremlau, especialista em Relações Internacionais da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, destaca que se o Brics quiser continuar sendo o grupo das grandes economias emergentes, seria lógico que os países do Sul que fazem parte do G20 ingressassem no bloco, diz Stremlau, referindo-se à Arábia Saudita e Argentina, por exemplo.
A questão da expansão dividiu, sobretudo, Índia e China, as duas economias mais fortes entre seus cinco membros. Pequim quer ampliar sua influência, enquanto Nova Delhi desconfia das ambições de seu rival regional.