O primeiro-ministro francês, François Bayrou, enfrentará uma moção de desconfiança nesta quinta-feira (16) apresentada pela esquerda radical, mas é improvável que seja aprovada sem o apoio dos socialistas.
A votação acontece dois dias depois de Bayrou, 73 anos, revelar seu programa político, abrindo caminho para a renegociação da impopular reforma previdenciária aprovada em 2023 e pedindo o corte do déficit "excessivo".
A maior parte da oposição na Assembleia Nacional (câmara baixa), onde o governo não tem maioria absoluta, criticou o discurso, mas a recusa da extrema direita em votar uma moção de censura já dificultou sua queda.
O deputado de extrema direita Jean-Philippe Tanguy alertou, no entanto, que "o momento da verdade" chegaria quando a proposta de orçamento do novo governo para 2025 fosse votada, na primeira votação crucial para Bayrou.
O aviso não é trivial. Seu antecessor, o conservador Michel Barnier, caiu em dezembro, quando a extrema direita somou seus votos a uma moção de censura da esquerda após uma tentativa de negociação com seus membros.
Bayrou, um aliado de longa data do presidente de centro-direita Emmanuel Macron, preferiu negociar com os socialistas para evitar a moção de censura e, na quinta-feira, confirmou em uma carta várias concessões para convencê-los ainda mais.
Entre elas estão a manutenção de um imposto temporário sobre grandes fortunas, a recusa em cortar empregos na educação e o aumento dos gastos com saúde, segundo a carta enviada aos socialistas.
Os parlamentares socialistas não votarão nesta quinta-feira para censurar o governo, decidiu o partido após um debate tenso, segundo um dos participantes.
Os socialistas, que concorreram às legislativas antecipadas em 2024 na coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP), podem irritar seus aliados verdes, comunistas e da esquerda radical LFI.
"A vida política é binária. Se você não vota em uma moção de censura, você apoia o governo", alertou o líder do LFI, Manuel Bompard, que acredita que os socialistas "mancharam a credibilidade da NFP".
Macron mergulhou a França em uma profunda crise política em 2024 com as inesperadas eleições antecipadas, que deixaram uma Assembleia Nacional sem maiorias claras e dividida em três blocos: esquerda, centro-direita e extrema direita.
O presidente, cujo mandato termina em 2027, não pode convocar novas eleições legislativas antes de julho.
* AFP