Embora o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, situe a dependência de diesel importado no Brasil em 25%, o presidente executivo da Associação Brasileira dos Importadores de Combustível (Abicom), Sergio Araujo, reitera que o ponteiro da compras no Exterior em 2022 não se moveu da faixa dos 30%. Por isso, caso o preço "abrasileirado" do derivado se afaste muito da referência internacional , podem surgir problemas, alerta:
— Se eixar todo esse volume sob responsabilidade só de um agente, é natural que o risco de eventual e pontual desabastecimento aconteça. A Petrobras até pode ter capacidade de importar o volume todo, mas o risco aumenta, sem dúvida.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, vem garantindo que a intenção não é permitir grandes diferenças entre os valores de referência e os domésticos. Segundo Araujo, a possibilidade de que o preço interno tenha baixa correlação com internacional "pode afastar importadores" em razão da insegurança.
— Isso faria com que a Petrobras concentrasse a responsabilidade de garantir o abastecimento pleno do país.
O presidente da Abicom diz que os importadores veem, na nova "estratégia comercial" da Petrobras, uma alteração do compromisso que existia até então, de praticar preço alinhado à paridade internacional. E critica:
— Isso tira totalmente a transparência na formação de preço. Apesar de o presidente dizer que vai continuar olhando para o preço internacional, ficou claro que o cálculo inclui variáveis que não são facilmente mensuráveis, por serem muito vagas, como alternativa do cliente, preço do produto substituto, oportunidade para exportação. custo de produção por refinaria. Assim, perde-se a referência e gera oportunidade para que o controlador (a União, portanto o governo federal) possa influenciar na precificação.
O presidente da Abicom afirma que, até agora, não identificou nas decisões da Petrobras a interferência que o governo anterior aplicou por diversas vezes.
— Nesta gestão, não percebemos essa intervenção, mas a nova política abre a possibilidade por não ter mais compromisso com a vinculação.
A coluna quis saber qual o grau de transparência da Paridade de Preços de Importação (PPI), uma vez que o cálculo não é conhecido e que as estimativas de defasagem diferem entre si.
— É verdade que cada um tem um cálculo da PPI, e poderá encontrar resultados diferentes, mas mais de 90% vem de produto mais frete. Então há variações porque um agente pode ter um produto mais caro ou uma negociação de frete. Há mais diferença na gasolina do que no diesel. A nossa é muito alinhada à que a ANP divulga semanalmente.
A coluna também perguntou se a Abicom tem conhecimento de algum cancelamento de importação já feito em razão da mudança de política - como se especulava no mercado na quarta-feira (17), Araujo negou:
— Não temos informações de cancelamento de contratos e acreditamos que seja pouco provável. Não há evidência de intervenção do governo na Petrobras. Existe o risco, mas até agora não há evidência. A redução no preço da gasolina foi exatamente a que mostrava nosso cálculo de defasagem da PPI, o do diesel é que ficou um pouco acima.
O que era a PPI
Em 2016, na gestão Temer, com a Petrobras abalada por escândalos de corrupção, elevado endividamento e um congelamento "branco" de preços, que provocaram altos prejuízos, foi adotado o cálculo chamado Paridade de Preços de Importação (PPI). O objetivo foi evitar que a estatal acumulasse perdas por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina.
A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, com preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como seguro contra perdas. Mas havia um detalhe: era meio a fórmula da Coca-Cola de antigamente: seus componentes eram conhecidos, mas o método de cálculo, não, o que fazia com que houvesse grandes diferenças na tentativa de estimar qual era, afinal, a defasagem de preços em determinado período.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo