Consciente do impacto de suas palavras no mercado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deu uma entrevista cautelosa há pouco à GloboNews. Disse ao menos duas coisas que poderiam atenuar o mau humor dominante: admitiu um "erro grave" de comunicação e afirmou que é preciso "calibrar" a expansão do PIB.
— Temos de nos comunicar melhor, venho dizendo isso há muito tempo. O governo tem de ser coerente e resoluto, não podemos deixar brecha sobre o resultado que queremos atingir. Não é só emprego e crescimento, temos de olhar para outras variáveis, como o déficit em transações correntes, que está aumento. Pode ser que o crescimento precise ser calibrado.
Haddad disse que um dos "erros graves" foi misturar o anúncio do pacote de gastos com a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil, mas também apontou que "talvez o tempo de maturação das medidas tenha sido exagerado". Durante a entrevista, o dólar oscilou bastante, mas não voltou a repetir a mínima do dia, de R$ 6,055.
Haddad também "vazou" uma informação: segundo ele, o déficit primário de 2024 vai fechar em 0,1% do PIB (cerca de R$ 10 bilhões) sem contar os gastos para reconstrução do Rio Grande do Sul e 0,37% do PIB incluindo as despesas contabilizadas como "crédito extraordinário". E cobrou de quem fez projeções de rombo maior:
– Temos um time obstinado em buscar resultados. Engraçado que, quando olha para o passado, ninguém se surpreende com a falha da sua previsão. Passaram o ano inteiro dizendo que déficit ia ser um, e vai ser outro.
Indagado sobre a necessidade de novas medidas de contenção de gastos, Haddad disse que não quer falar em "pacote 2" ou "pacote 3", mas afirmou que "só se faz isso no Ministério da Fazenda".
– Vai acontecer de mandarmos medidas, temos o pilar 2 da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a resolução de problemas tributários com grandes empresas, o pacote das big techs.
Outras frases e seu contexto
— Temos de der mais coesão no discurso porque o momento exige mais de nós.
Ao ser perguntado sobre as reuniões do final do ano passado no Palácio do Planalto, depois da má reação ao pacote
— Temos de acertar muito e errar pouco.
Ao confirmar que houve erro no anúncio do pacote, que fez questão de não atribuir à Secom, comandada pelo gaúcho Paulo Pimenta. Disse que o Planalto, a Fazenda e o Planejamento também erram.
— Nunca me senti desautorizado pelo presidente Lula.
Ao ser ser perguntado se pretende continuar na Fazenda até o final de 2026.