Pesquisador associado da Fundação Getulio Vargas (FGV), Fabio Giambiagi é autor ou coautor de cerca de 30 livros sobre a economia brasileira. Há 35 anos, dedica-se aos temas de finanças públicas e já passou pelo governo, como assessor do Ministério de Planejamento. Em depoimento à coluna, ele detalha os motivos que deixaram perplexos especialistas em contas públicas - categoria da qual faz parte - e frustraram o mercado. Em tempo: não é "má vontade com o governo Lula". Giambiagi foi um ácido crítico do governo anterior.
A confusão
"O governo cometeu um erro crasso de estratégia política colocando a isenção do Imposto de Renda (com o pacote de corte de gastos). É algo que só deve ter efeitos concretos a partir de janeiro de 2026. Contaminou toda a discussão que seria imediata acerca de medidas que devem vigorar em 2025. Então, é absolutamente incompreensível que se tenha feito isso, principalmente considerando o fato de que os beneficiários talvez nem tomaram conhecimento. E os que devem pagar mais, naturalmente, estão irritados com o governo."
As medidas
"Deixamos de discutir aquilo que é essencial, que são as medidas que, por sua vez, também estão envoltas em dúvida. A medida dos militares tem efeitos ínfimos, a do abono traz efeitos minúsculos nos próximos dois ou três anos, o salário mínimo aumentar 2,5% em vez de 3% não faz tanta diferença."
Efeito líquido
"O efeito (da mistura de isenção com pacote de corte de gastos) foi exatamente o oposto, com o agravante de que, do jeito que a discussão foi encaminhada, atropelou outras agendas. A reforma tributária ficou para trás e agora as próprias medidas do ajuste também ficaram em segundo plano diante dessa discussão um pouco esotérica sobre a isenção do imposto de renda, que é algo que, na verdade, só vai entrar em pauta no que vem."