Depois de mais de um mês de espera, as reuniões finais no Palácio do Planalto para fechar o pacote de gastos tiveram presença da ala política. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamava da imagem de "pacote de maldades", com concentração das medidas em quem ganha menos.
Dados os limites da base de apoio do governo no Congresso para aprovar medidas que de fato incidam sobre os mais ricos, apareceu uma "grande ideia": incluir o afago da isenção de IR para quem ganhar até R$ 5 mil, uma promessa de campanha.
A equipe econômica, inclusive seu comandante, Fernando Haddad, foi contra. Mas prevaleceu a visão política de amortecer "maldades" com uma "bondade". Na quarta-feira à tarde, com o mercado ainda aberto, alguém achou bacana vazar a informação sobre a isenção. Imaginou um colibri, produziu um urubu. O dólar quebrou o recorde nominal histórico. Nesta quinta, encostou duas vezes em R$ 6.
Foi um ruído totalmente desnecessário, tanto que, mesmo depois dos esclarecimentos feitos por Haddad antes da abertura do mercado, a pressão cambial se manteve. A isenção é uma medida que estará na segunda fase da reforma tributária, prevista para entrar em vigor só em 2026. Por que falar nisso agora?
Além disso, mesmo os mais benignos avaliadores do pacote em si o consideram "insuficiente". O detalhamento dos cortes de R$ 70 bilhões em dois anos também decepcionou. Há mudanças na forma, mas a avaliação no mercado varia pouco no conteúdo.
— O mercado está dando o recado já faz alguma tempo ao governo de que o pacote de equilíbrio fiscal tem de ser crível e consistente. E o governo não conseguiu enquadrar essas duas palavra no pacote. Ao contrário, conseguiu piorar o que já estava ruim, anunciando a isenção de IR com compensação de aumento para quem ganha mais de R$ 50 mil. O governo erra porque é insuficiente para reduzir a relação dívida/PIB. Esse pacote não é suficiente — afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
— Além de o pacote fiscal ter sido insuficiente, o governo cometeu um erro ao lançar isenções tributárias em um momento que exigia cortes e ajustes fiscais, o mercado e o dólar vão exemplificar isso ao longo do dia — avalia João Kepler, CEO da Equity Fund Group.
— Em vez de tentar implementar a isenção do IR agora, o governo poderia ter focado, neste momento, apenas no ajuste das contas públicas, deixando as questões tributárias para uma fase posterior. Essa abordagem errada gera um grande nervosismo no mercado — ecoa Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.